O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa hoje 70 anos com 55% de rejeição dos eleitores, segundo a última pesquisa Ibope; tendo um dos filhos como alvo da Operação Zelotes, da Polícia Federal (PF), sob suspeita de receber propina pela intermediação da aprovação de uma Medida Provisória para o setor automotivo; investigado pelo Ministério Público Federal em Brasília (MPF) sob suspeita de tráfico de influência internacional e citado, por diversos delatores da Operação Lava Jato, como conhecedor e beneficiário do esquema de corrupção na Petrobras. Ele compreensivelmente desistiu de celebrar seu aniversário.
Menos compreensivelmente, decidiu, de acordo com notícias veiculadas nos jornais, pôr a responsabilidade na presidente Dilma Rousseff pela operação da Polícia Federal que ontem fez uma ação de busca e apreensão nas empresas LFT Marketing Esportivo e Touchdown, de seu filho Luís Cláudio Lula da Silva. Nos últimos tempos, Lula tem insistido para a saída do ministro José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça, por acreditar, novamente segundo os relatos, que ele é incapaz de “controlar a PF” nas operações contra petistas. Em defesa de Dilma, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou que “o governo não tem qualquer interferência nas investigações”. Não tem mesmo.
Lula, cujo irmão Genival foi alvo de uma operação da PF durante seu próprio governo, em 2007, sabe disso muito bem. O combate à corrupção no Brasil tem funcionado, entre tantos outros motivos, por causa da autonomia conferida às instituições, entre elas a PF. Tem sido assim há mais de dez anos, pelo menos desde a gestão do ministro Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça, durante o governo Lula, período em que houve uma multiplicação de operações da PF – nem todas bem fundamentadas, é bom que se diga –, sob o comando do controverso delegado Paulo Lacerda.
Se Lula garantiu a autonomia da PF em seu governo, se sabe que o ministro da Justiça não pode interferir, por que a sanha pela queda de Cardozo e sua acusação extemporânea a Dilma, vazada por seus acólitos para as páginas dos jornais? É comprensível seu incômodo. É verdade que as operações policiais são muitas vezes arbitrárias e inconsistentes. É fato que muitas das acusações da Zelotes ainda padecem da falta de provas sólidas (operações policiais existem, afinal, para coletá-las). Mas que Dilma e Cardozo têm a ver com isso?
A explicação, como a explicação para quase tudo nos 70 anos de vida de Lula, é política. Seu índice de rejeição revela que, caso ele tente se candidatar em 2018 ou mesmo antes disso (na eventualidade de um improvável impeachment), enfrentará uma eleição muito diferente das últimas vencidas pelo PT. Se Dilma teve dificuldade para derrotar Aécio no ano passado, ele teria ainda mais. O envolvimento de seus familiares e de seu nome em investigações policiais em nada ajuda. Lula adota então uma defesa comum a vários acusados: posa de vítima. Nada como se fazer de perseguido para conquistar simpatias, e ele sempre foi mestre nesse jogo. Mas perseguido por quem? Por DIlma e Cardozo, naturalmente.
A escolha de Dilma como perseguidora revela mais um lance ousado da estratégia de Lula. A economia vai mal, o desemprego e a inflação estão em alta, o governo não consegue nem apresentar um Orçamento minimamente crível e, pela terceira vez no ano, reduzirá a meta de resultado primário nas contas do governo – desta vez, elas vão para o vermelho mesmo. Então Lula, previsivelmente, não poupa críticas à condução da política econômica e pede a saída do ministro Joaquim Levy.
Menos compreensivelmente, decidiu, de acordo com notícias veiculadas nos jornais, pôr a responsabilidade na presidente Dilma Rousseff pela operação da Polícia Federal que ontem fez uma ação de busca e apreensão nas empresas LFT Marketing Esportivo e Touchdown, de seu filho Luís Cláudio Lula da Silva. Nos últimos tempos, Lula tem insistido para a saída do ministro José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça, por acreditar, novamente segundo os relatos, que ele é incapaz de “controlar a PF” nas operações contra petistas. Em defesa de Dilma, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou que “o governo não tem qualquer interferência nas investigações”. Não tem mesmo.
Lula, cujo irmão Genival foi alvo de uma operação da PF durante seu próprio governo, em 2007, sabe disso muito bem. O combate à corrupção no Brasil tem funcionado, entre tantos outros motivos, por causa da autonomia conferida às instituições, entre elas a PF. Tem sido assim há mais de dez anos, pelo menos desde a gestão do ministro Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça, durante o governo Lula, período em que houve uma multiplicação de operações da PF – nem todas bem fundamentadas, é bom que se diga –, sob o comando do controverso delegado Paulo Lacerda.
Se Lula garantiu a autonomia da PF em seu governo, se sabe que o ministro da Justiça não pode interferir, por que a sanha pela queda de Cardozo e sua acusação extemporânea a Dilma, vazada por seus acólitos para as páginas dos jornais? É comprensível seu incômodo. É verdade que as operações policiais são muitas vezes arbitrárias e inconsistentes. É fato que muitas das acusações da Zelotes ainda padecem da falta de provas sólidas (operações policiais existem, afinal, para coletá-las). Mas que Dilma e Cardozo têm a ver com isso?
A explicação, como a explicação para quase tudo nos 70 anos de vida de Lula, é política. Seu índice de rejeição revela que, caso ele tente se candidatar em 2018 ou mesmo antes disso (na eventualidade de um improvável impeachment), enfrentará uma eleição muito diferente das últimas vencidas pelo PT. Se Dilma teve dificuldade para derrotar Aécio no ano passado, ele teria ainda mais. O envolvimento de seus familiares e de seu nome em investigações policiais em nada ajuda. Lula adota então uma defesa comum a vários acusados: posa de vítima. Nada como se fazer de perseguido para conquistar simpatias, e ele sempre foi mestre nesse jogo. Mas perseguido por quem? Por DIlma e Cardozo, naturalmente.
A escolha de Dilma como perseguidora revela mais um lance ousado da estratégia de Lula. A economia vai mal, o desemprego e a inflação estão em alta, o governo não consegue nem apresentar um Orçamento minimamente crível e, pela terceira vez no ano, reduzirá a meta de resultado primário nas contas do governo – desta vez, elas vão para o vermelho mesmo. Então Lula, previsivelmente, não poupa críticas à condução da política econômica e pede a saída do ministro Joaquim Levy.
Num cálculo político que Lula bem conhece, a persistir a atual inépcia de DIlma para lidar com a situação, é improvável que um nome ligado a ela saia vitorioso numa eleição para sucedê-la. Isso só aconteceria em duas situações. A primeira, é se Dilma porventura caísse. Nesse caso, por mais sereno e dentro da lei que fosse o rito de impeachment, o PT sempre poderia brandir o discurso do “golpe” e assumir a postura de vítima para que Lula voltasse nos braços do povo. Não é por outro motivo que no início do ano, enquanto não havia a investigação do MPF e a Lava Jato ainda estava distante dele, Lula estava extremamente discreto e comedido em suas declarações contra o impeachment. Sem Dilma no governo, ficava-lhe mais fácil ganhar, concorrendo contra uma eventual presidência do vice, Michel Temer, ou de algum outro nome eleito num novo pleito.
À medida que as investigações avançaram e chegaram mais perto de seu nome, Lula mudou de tática e passou a atuar na defesa de Dilma para tentar se proteger, como já escrevi. Ele sabe muito bem que nem Dilma nem Cardozo podem – ou nem mesmo querem – lhe oferecer o tipo de proteção de que precisa nas ações da PF e do MPF. Também sabe que não pode estar associado a ela se quiser recuperar sua popularidade. Seu jogo em relação a Dilma precisa equilibrar-se sobre esse dilema, como uma sofisticada dança de aproximação e afastamento. Em sete décadas de vida, ele já demonstrou conhecer muito bem os passos do balé político. Mas a passagem do tempo costuma cobrar seu preço dos melhores artistas.
À medida que as investigações avançaram e chegaram mais perto de seu nome, Lula mudou de tática e passou a atuar na defesa de Dilma para tentar se proteger, como já escrevi. Ele sabe muito bem que nem Dilma nem Cardozo podem – ou nem mesmo querem – lhe oferecer o tipo de proteção de que precisa nas ações da PF e do MPF. Também sabe que não pode estar associado a ela se quiser recuperar sua popularidade. Seu jogo em relação a Dilma precisa equilibrar-se sobre esse dilema, como uma sofisticada dança de aproximação e afastamento. Em sete décadas de vida, ele já demonstrou conhecer muito bem os passos do balé político. Mas a passagem do tempo costuma cobrar seu preço dos melhores artistas.
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