segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Blair admite que invadir Iraque ajudou a criar o Estado Islâmico

O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair admitiu ontem, pela primeira vez, ter havido uma série de "erros" na invasão do Iraque em 2003 e que, de algum modo, a operação militar que levou à queda do regime ditatorial de Saddam Hussein não deixou de influenciar a "situação em 2015".
O trabalhista Tony Blair (no poder entre 1997 e 2007) fez estas declarações à CNN,
 sendo interpretada como uma tentativa de esvaziar as críticas que se espera num 
relatório sobre o envolvimento britânico na guerra de 2003, cuja divulgação é 
aguardada com elevada expectativa. Algumas das famílias dos 179 soldados 
britânicos mortos no conflito ameaçaram processar o coordenador dos trabalhos,
 Sir John Chilcot, se este não divulgasse uma data para a publicação.
 O que deve suceder no início de novembro. Terá então de ser feito o controlo 
se as informações contidas no documento comprometem a segurança nacional. 
Só depois será publicado.
A segunda guerra do Iraque decorreu de março a abril de 2003 e levou à queda de 
Saddam, seguindo-se um longo conflito contra as forças internacionais, 
que até 2011 causou a morte de 461 mil pessoas.
Blair reconheceu que as "informações fornecidas pelos serviços secretos"
 se revelaram "falsas" ou não correspondiam à dimensão real do programa
 de armas químicas do regime de Saddam. Os "programas que existiam na 
forma como nós pensávamos que existiam não existiam na forma como nós
 pensávamos", disse Blair numa formulação que a personagem Sir Humphrey,
 das séries Sim Senhor Ministro e Sim Senhor Primeiro-Ministro, não deixaria
 de sentir orgulho em reivindicar como sua.
De forma mais responsável e menos palavrosa, Blair admitiu terem ocorrido 
"erros" na perceção "do que estava a suceder depois" da queda do ditador iraquiano
. Esses "erros", de algum modo, são parte do conjunto de fatores que levaram ao
 aparecimento e crescimento do Estado Islâmico, afirmou Blair num tom algo
 contrito. Mas não deixou de insistir na ideia de que o fenómeno das "Primaveras
 Árabes, que começou em 2011, não deixaria de ter impacto no Iraque de hoje,
 e o [EI] ganhou importância a partir da Síria e não no Iraque".
Contudo, Blair considerou "difícil pedir desculpa por termos afastado Saddam 
do poder. Mesmo hoje, em 2015, é melhor ele não estar no poder".
Algumas figuras políticas britânicas comentaram em tom crítico as declarações 
de Blair. Para o liberal-democrata Menzies Campbell, "nada vai mudar na
 perceção da opinião pública de que se esteve perante um importante erro de
 análise". O porta-voz para a Defesa dos eurocéticos do UKIP, Mike Hookem,
 insistiu na necessidade da rápida divulgação do relatório sobre a guerra. 
Fora do plano político, o arcebispo de Gales, Barry Morgan, que defende posições 
pacifistas, considerou que as palavras de Blair não o absolvem das
 "responsabilidades que tem na consciência".
 Finalmente, o The Mail on Sunday, ligado aos conservadores do primeiro-ministro
 David Cameron, descreveu a entrevista como o "momento histórico em
 Tony Blair, finalmente, pede desculpa" pelo envolvimento britânico na guerra.

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