Em seu depoimento, Yunes trouxe um elemento novo ao caso contra Temer e Padilha. Segundo o advogado, o mensageiro da Obebrecht era o doleiro Lucio Bolonha Funaro, que teria mencionado, em rápida conversa, financiamento a 140 deputados para "fazer o Eduardo presidente da Casa".
Eduardo era Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado federal cassado que de fato foi eleito presidente da Câmara, cargo por meio do qual liderou o impeachment contra Dilma Rousseff (PT). Lucio Funaro é apontado pelo Ministério Público Federal como operador de Cunha e, assim como o ex-deputado, está preso no âmbito da Operação Lava Jato.
O pacote, afirmou Yunes, foi retirado mais tarde por uma pessoa que ele não teria identificado. De acordo com o blog do jornalista Gerson Camarotti, no portal G1, que também trata do depoimento de Yunes, a encomenda teria sido levada ao ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Encontro com Temer
Na carta de demissão enviada a Temer em dezembro, Yunes afirmara que tomou a decisão "em respeito à família", para "preservar a dignidade". Nesta quinta-feira 23, Yunes esteve em Brasília e conversou com Temer. O encontro não aparece na agenda de Temer, mas foi confirmado pelo Palácio do Planalto ao Blog do Camarotti.
O nome de Yunes chegou às manchetes em 9 de dezembro, após o vazamento da delação de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht. No depoimento aos procuradores responsáveis pela Lava Jato, Melo Filho narrou ter enviado um emissário para entregar dinheiro vivo no escritório Yunes em São Paulo em 2014.
O dinheiro seria parte, ainda segundo o delator, de um total de 10 milhões de reais acertados entre Temer e Marcelo Odebrecht, o dono da construtura, em um jantar realizado em maio daquele ano no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência.
Esse montante de 10 milhões, afirma o delator, deveria ser dividido em duas partes: 6 milhões de reais para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, então candidato a governador de São Paulo, e 4 milhões para Eliseu Padilha, que distribuiria o valor para outros candidatos do PMDB.
Cunha, Moro e Temer
À revista Veja, o ministro-chefe da Casa Civil disse que não conhece Lucio Funaro e que não pediu nenhuma entrega a ele. Quando o caso veio à tona, o Palácio do Planalto confirmou o acordo com a Odebrecht para o repasse de 10 milhões de reais, mas disse que se tratava de verbas para financiar a campanha. O delator Cláudio Melo Filho sustenta que tratava-se de propina.
Réu na 13ª Vara Federal de Curitiba, na qual tramita a Lava Jato em primeira instância, Eduardo Cunha arrolou Temer como testemunha e apresentou uma lista de 41 perguntas a serem feitas a ele. O juiz Sergio Moro barrou, entretanto, 21 dessas questões, incluindo as três que citavam Yunes.
Nos questionamentos, Cunha perguntava sobre qual era a relação de Temer com Yunes e se o presidente "recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB". Na terceira pergunta, Cunha levantava a possibilidade de caixa dois ou propina ao indagar se as contribuições "foram realizadas de forma oficial ou não declarada".
Na ocasião, Moro considerou as 21 perguntas excluídas como inapropriadas ou sem pertinência com o objeto da ação penal. Para o mundo político, a simples apresentação das perguntas por parte da defesa de Cunha foi uma sinalização do deputado cassado a respeito do potencial explosivo que uma delação premiada por parte dele poderia ter.
Após o Carnaval, três delatores da Odebrecht, incluindo Cláudio Melo Filho, serão ouvidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ação contra a chapa Dilma-Temer, que pode ser cassada. Caso esse seja o desfecho do julgamento, Temer pode ser destituído e uma eleição direta definiria um presidente tampão até as eleições de 2018.
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