Patrícia Lélis, 22, relatou à polícia que foi ameaçada pelo chefe de gabinete do deputado para silenciar sobre tentativa de estupro pelo congressista. Assessor está detido em SP.
A jornalista Patrícia Lélis, 22, procurou a 4ª Delegacia da Polícia Civil de São Paulo na tarde desta sexta (5) para relatar que foi ameaçada pelo chefe de gabinete do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), Talma Bauer, para silenciar sobre uma tentativa de estupro pelo congressista.
O chefe de gabinete de Feliciano foi detido na noite desta sexta na 3ª Delegacia da capital. O delegado Luis Roberto Hellmeister disse que iria pedir a prisão provisória de Bauer por causa de risco à jornalista. Patrícia depôs nesta sexta.
Talma Bauer está detido sob suspeita de sequestro qualificado –de ter mantido a jornalista em cárcere privado. Patrícia Lélis disse que foi abordada por Bauer após chegar a São Paulo no último sábado. Segundo ela, ele disse que estava armado e a fez entrar num carro.
“A vítima está apavorada”, disse Hellmeister ao BuzzFeed Brasil na noite desta sexta.
O chefe de gabinete Bauer foi ouvido em um depoimento preliminar e deverá permanecer detido na delegacia até a decisão sobre o pedido de prisão, segundo o delegado.
Na conversa de duas horas com o delegado Roberto Pacheco de Toledo durante a tarde, Patrícia Lélis, que é militante do PSC, contou que foi atacada pelo deputado no dia 15 de junho, em Brasília.
“Ela relatou dois crimes que não puderam ser registrados aqui. O primeiro porque aconteceu em Brasília e o segundo porque dizia respeito a um policial civil, que é da alçada da corregedoria”, disse o delegado ao BuzzFeed Brasil, após a conversa com a jornalista.
O chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, é investigador aposentado da Polícia Civil e nega que tenha ameaçado.
Patrícia Lélis chegou à delegacia acompanhada da mãe e de outras duas pessoas durante a tarde.
A nova versão da vítima é uma reviravolta. O caso foi revelado na última terça (2) a coluna Esplanada, publicada pelo portal Uol, revelou que Patrícia havia sido atacada pelo deputado.
No mesmo dia, a jovem, que é militante do PSC em Brasília, gravou dois vídeos isentando o deputado Marco Feliciano. Em um deles, ela acusava a “esquerda” de ter tramado a mentira da tentativa de estupro para desgastar o pastor-deputado.
Nesta sexta, Patrícia Lélis disse que foi coagida pelo chefe de gabinete de Feliciano a gravar os dois vídeos.
A jovem jornalista ganhou notoriedade por usar redes sociais para defender a criminalização do aborto e pregar sobre religião e política.
Evangélica, ela é militante do PSC, o partido de Feliciano. Os dois teriam se aproximado não só pela religião, mas pela política, já que Patrícia foi atuante na criação da CPI que investigará a União Nacional dos Estudantes (UNE) na Câmara.
“Põe uma pedra em cima disso.”
Uma das conversas que teve com o chefe de gabinete de Feliciano (foto acima), em um restaurante de Brasília, foi registrada em áudio aparentemente pela própria jornalista. Bauer nega a autenticidade da gravação.
Em um áudio de 28 minutos que também foi publicado pela Coluna Esplanada, Patrícia Lélis conversou com o chefe de gabinete de Feliciano sobre o ataque.
Ela contou que chegou ao apartamento de Feliciano convidada para uma reunião sobre a CPI da UNE, quando o deputado, nas palavras registradas na gravação, a teria levado “a fazer coisas a força”.
O emissário de Feliciano diz que está reunido com a jornalista para ouvi-la e apoiá-la. Num dos trechos da gravação, a voz atribuída ao assessor de Feliciano menciona a palavra “perdão”, Patrícia Lélis cortou abruptamente: “Perdão pode haver, mas é crime”.
No início da conversa, a mulher diz não querer nada para manter o silêncio porque o que Feliciano fez foi “impagável”. No final da conversa, porém, ela diz que tem sido marginalizada pela executiva jovem do PSC.
A voz atribuída ao assessor promete deixar a situação dela no partido melhor do que era antes. A jovem indica que não quer um escândalo para não afetar o movimento evangélico [do qual Feliciano é um dos grandes expoentes na política].
Ele arremata com uma promessa: “Você não está fazendo um favor, você está fazendo um bem. De você perdoar. E posso pedir para você, neste quesito, põe uma pedra em cima? Eu vou te assessorar. No partido, vai continuar tudo igual para você. Pelo contrário, vai ser melhor”.
“O deputado é a vítima”, diz assessor, que nega ameaça.
Ouvido pelo BuzzFeed Brasil, o chefe de gabinete e policial aposentado Talma Bauer negou que tenha ameaçado Patrícia.
“Ela tem falado isso faz dias. É claro que eu não ameacei. Tenho idade para ser pai dela”, disse.
O assessor ter conversado com a jornalistas algumas vezes, mas nega que seja sua a voz gravada em áudio. “Eu conversei com ela, mas essa gravação é uma montagem. Eu sempre falei com ela na presença de amigas dela.”
O chefe de gabinete de Feliciano disse que a última conversa que teve com a Patrícia Lélis foi quando ela avisou que faria o vídeo (inocentando Feliciano). “Ela falou que ia fazer o vídeo. Ela fez o vídeo. Depois arrependeu, não sei”.
Bauer disse que, a princípio, o deputado não vai se pronunciar.
“O pastor é vítima. Vítima de uma calúnia.” Em suas redes sociais, Feliciano não toca no assunto, mas escolhe passagens bíblicas que falam de calúnias e perseguições.
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