terça-feira, 12 de abril de 2016

Dilma ainda não foi destituída e vice já fala como presidente


A divulgação de uma gravação em que Michel Temer ensaiava o discurso de tomada de posse veio incendiar ainda mais o clima de crise política no Brasil. Para já, a comissão especial do 'impeachment' aprovou o relatório favorável ao afastamento de Dilma Rousseff.

O ministro-chefe do gabinete pessoal da Presidente brasileira, Jaques Wagner, disse que o vice-presidente do país, Michel Temer, deve renunciar ao cargo se o processo de 'impeachment' (impugnação) de Dilma Rousseff for rejeitado no Congresso.
Jaques Wagner falava aos jornalistas na segunda-feira à noite na sequência da divulgação de uma gravação com Michel Temer a proferir um discurso de eventual tomada de posse como chefe de Estado brasileiro.
As declarações foram proferidas após a comissão especial do 'impeachment' da Presidente na Câmara dos Deputados ter aprovado, por 38 votos a favor e 27 contra, o relatório favorável ao afastamento de Dilma Rousseff.
Agora, o texto será apreciado pela Câmara dos Deputados, mas o processo só implicará o afastamento de Dilma Rousseff se recolher mais de dois terços dos votos dos parlamentares.
O texto hoje aprovado recomenda a continuidade do processo contra a chefe de Estado, alegando que ela deve ser processada porque há indícios de que cometeu crime de responsabilidade.
Dilma Rousseff é acusada de promover as chamadas "pedaladas fiscais" (atraso nas transferências de dinheiro devido pelo Governo aos bancos para melhorar as contas públicas) e de assinar seis decretos que autorizaram despesas extras sem aprovação do Congresso.
Caso a Câmara dos Deputados e o Senado aprovem a destituição da atual Presidente, Michel Temer pode assumir temporariamente o cargo.
A gravação foi enviada aos deputados da sua formação política, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), "por acidente", explicou a assessoria de imprensa do vice-presidente.
Para Jaques Wagner, Michel Temer precipitou-se ao fazer a gravação e teria a intenção de a divulgar propositadamente.
"[Temer] macula a sua própria história, rasga a fantasia e assume o papel que antes poderia estar escondido, de patrocinador do golpe. Não me consta que ele tenha bola de cristal. [Na] votação de domingo, ele pode ficar desmentido e um pouco sem saída. Uma vez desmentido, só restaria a renúncia", afirmou Jaques Wagner.
Espera-se que os deputados votem o pedido de destituição no próximo domingo.
O chefe do gabinete de Dilma Rousseff acrescentou que, "depois de assumir a conspiração, uma vez derrotada [a conspiração], vai ficar um clima insustentável".
"Não há educação para conspiradores que não têm nenhum código de ética", criticou, falando numa "atitude deplorável".
Segundo o ministro, citado pela imprensa brasileira, Dilma Rousseff ficou "perplexa" e recebeu o discurso com tristeza.
Quanto à votação desta segunda-feira, o responsável referiu que o Governo recebeu o resultado com tranquilidade e que a expetativa da oposição em alcançar uma grande maioria na comissão não se confirmou.
"Disseram que íamos perder, mas o resultado está dentro do esperado. Aos que pregam o golpe dissimulado, esse número não lhes dá o resultado que gostariam. Agora é hora de trabalhar", sublinhou.
Para arquivar o pedido de impugnação na votação no plenário, o Governo precisa de 172 votos ou de 172 abstenções, mas Jaques Wagner adiantou que a meta do Executivo é chegar aos 213 votos.
O governante classificou ainda os 27 deputados que votaram contra o parecer na comissão como "heróis da democracia".

LULA COMPARA CRISE POLÍTICA AO NASCIMENTO DO FASCISMO E DO NAZISMO


O ex-Presidente do Brasil Lula da Silva comparou a crise política no país ao surgimento do fascismo e do nazismo e disse que não ficou surpreendido com a aprovação do pedido de 'impeachment' (impugnação) da Presidente Dilma Rousseff.
Num encontro com artistas e intelectuais no Rio de Janeiro, esta segunda-feira à noite, Lula da Silva mostrou preocupação com a rejeição àclasse política no Brasil, que marcou os protestos a favor do 'impeachment'.
"Em São Paulo, não deixaram o [Geraldo] Alckmin e o Aécio [Neves] falarem, porque quem fala por eles [organizadores dos protesto] é o democrata [Jair] Bolsonaro. Foi assim que nasceu o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália", comparou, citado pela imprensa brasileira.
Lula da Silva sublinhou que está pronto para defender a democracia do país até ao fim, em palavras dirigidas aos que querem "dar um golpe na companheira Dilma".
"Quando saímos para a rua a defender o mandato da Dilma, é importante ter a clareza de que não estamos defendendo apenas o direito de uma mulher a ser Presidente da República. Estamos a defender a honra das mulheres brasileiras, que sempre foram tratadas como objeto de cama e mesa neste país", referiu.
O ex-chefe de Estado minimizou a aprovação do processo de impugnação de Dilma Rousseff esta segunda-feira na comissão especial da Câmara dos Deputados criada para o efeito, com 38 votos a favor e 27 contra.
"Isso não quer dizer nada. Então, o que nós temos de ter clareza é domingo no plenário. E nós sabemos que temos de conversar com os deputados", disse.
O pedido de destituição segue agora para o plenário da Câmara dos Deputados e, se for aprovado, será depois votado no Senado.
Lula da Silva referiu também que a sua sucessora "aprendeu uma lição" ao propor um ajuste fiscal no ano passado.
"[Dilma] Fez uma proposta de ajuste que nenhum companheiro gostou, porque foi para atender o mercado. O mercado dela não é o banqueiro, é o povo consumidor, é o trabalhador, o cara que vai comprar carne. É o cara que vai no supermercado", afirmou.
Na segunda-feira à noite, artistas e intelectuais lançaram um manifesto em que falam num "golpe em andamento" contra o Governo.


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