sexta-feira, 21 de agosto de 2015

'Renúncia' e 'covardia' não fazem parte do meu vocabulário, diz Cunha

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o deputado Paulinho da Força (esq.) chegam para encontro com trabalhadores e sindicalistas, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no bairro da Liberdade (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)Um dia depois de ser denunciado pela Procuradoria Geral da República, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi ovacionado por sindicalistas da Força Sindical em um evento na sede da central sindical, em São Paulo.
Em seu discurso aos integrantes da entidade, o peemedebista afirmou que, mesmo diante da possibilidade de se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF), ele não cogita renunciar ao comando da casa legislativa (assista ao vídeo abaixo). Eleito para a presidência da Câmara em fevereiro, Cunha tem mandato até 2017.
No momento em que ele chegou ao evento na capital paulista, por volta das 10h20, cerca de 200 pessoas gritavam palavras de ordem, como "Cunha, guerreiro do povo brasileiro".
"Ninguém pode ser previamente condenado. Estou absolutamente sereno. Nada alterará o meu comportamento. Não adianta nenhuma especulação sobre o que vou fazer ou deixar de fazer. Não vou abrir mão de nenhum direito. Não vou retaliar quem quer que seja", declarou Cunha aos integrantes da Força Sindical.
"Não há a menor possibilidade de eu não continuar no comando da Câmara, abrindo mão daquilo que a maioria absoluta me elegeu em primeiro turno. Renúncia é um ato unilateral. Isso não faz parte do meu vocabulário, e não fará. Assim como covardia", complementou.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou nesta quinta-feira (20) ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncias contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e contra o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato.
O procurador-geral pede a condenação dos dois sob a acusação de terem cometidos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. De acordo com a Procuradoria, eles receberam propina de contratos firmados entre a Petrobras e fornecedores da estatal.
Na denúncia contra Eduardo Cunha (veja a íntegra), a Procuradoria também pede que sejam devolvidos US$ 80 milhões – US$ 40 milhões como restituição de valores supostamente desviados e mais US$ 40 milhões por reparação de danos. A PGR estima essa quantia em R$ 277,36 milhões, pela cotação atual. O presidente da Câmara se diz "inocente" e afirmou que foi "escolhido para ser investigado".
O evento desta sexta, realizado no auditório da Força Sindical, foi organizado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP), um dos principais aliados de Cunha na Câmara dos Deputados. Cercado por seguranças, o peemedebista chegou ao ato sindical na companhia de Paulinho.
Sindicalistas uniformizados e com bandeiras da Força aguardavam Cunha do lado de fora do prédio. Do lado de dentro, outros integrantes da central sindical estendiam faixas com mensagens de apoio ao presidente da Câmara. Uma das mensagens, do Sindicato Nacional dos Aposentados, pedia o apoio do peemedebista para aprovar um projeto que equipare os reajustes da categoria.
'Presunção de inocência'
Diante da plateia de sindicalistas simpáticos a sua gestão na Câmara, Eduardo Cunha voltou a criticar a denúncia da PGR. Segundo ele, a peça judical assinada por Janot, de 85 páginas, não tem "uma única prova" contra ele. "Aquela ilação, que é a peça protocolada ontem [quinta] com o nome de denúncia", disse o peemedebista.
Dizendo-se "sereno", Cunha destacou aos integrantes da Força Sindical que vai enfrentar a denúncia do procurador-geral "tranquilamente". "A nossa Constituição sempre preza pela presunção da inocência", enfatizou.
Em tom irônico, ele deu "graças a Deus" pelo fato de não haver pena de morte no Brasil. "A gente não tem pena de morte neste país, senão, essa ia ser minha pena de morte."
PMDB
Mais tarde, em uma entrevista coletiva na sede da Força Sindical, Cunha foi questionado sobre se ele precisa atualmente de apoio do PMDB para enfrentar as denúncias. Ao responder, o parlamentar disse que não precisa de apoio de ninguém e vai responder juridicamente o assunto.
“Eu não tenho que buscar apoio de quem quer que seja para absolutamente nada. Simplesmente, eu vou continuar exercendo o meu papel. O apoio do PMDB eu tenho que buscar para minhas teses políticas e seus fóruns apropriados. No meu papel, eu não preciso de apoio de quem quer que seja, simplesmente, o que está havendo é um processo que virou jurídico, e esse jurídico vai ser respondido juridicamente.”
Cunha destacou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também foi denunciado há dois anos e, nem por isso, renunciou. "Ele sofreu uma denúncia há dois anos atrás e a denúncia não foi nem ainda apreciada pelo pleno do Supremo, e nem por isso cobraram se ele tinha condições ou não tinha condições”, ponderou.
O presidente da Câmara também criticou a aliança entre seu partido com o PT e, mais uma vez, disse que vai pregar o fim da parceria entre as duas legendas. Ele lembrou que, em novembro, o PMDB irá discutir a possibilidade de romper com o governo em seu congresso nacional.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se encontra com trabalhadores e sindicalistas no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no bairro da Liberdade, região central da capital paulista (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress)

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