O professor de antropologia Ronaldo Almeida, da Unicamp, afirmou que o comportamento social dos evangélicos é permeado por ódio, fobia e vingança, e que isso explica casos como o da agressão à menina candomblecista (atribuída, sem provas, a pentecostais) e o apoio à redução da maioridade penal.
Segundo Almeida, os dois exemplos acima são manifestações de conservadorismo que refletem um cenário geral da sociedade brasileira.
Ele pontuou em entrevista ao IG que o ódio pode ser notado na reprovação dos evangélicos à homossexualidade e outras religiões; a fobia pode ser percebida no apoio que muitos brasileiros dão à legislação mais permissiva em relação ao porte de armas; e por último, a vingança, que seria o motivo pelo desejo da redução da maioridade penal.
“No Brasil, o que se consolida é o pluralismo no interior do cristianismo, cujo movimento principal são católicos se tornando evangélicos. Esse aumento do contingente vai além dos templos, se reflete no âmbito da política, da economia, da mídia”, teoriza o professor, sugerindo que essa mudança de pensamento da sociedade é um reflexo direto do crescimento dos evangélicos.
Segundo Almeida, erros políticos teriam funcionado como combustível para o crescimento da representatividade dos evangélicos na política. O professor também criticou a gestão do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM).
“Em 2010, o José Serra [candidato à presidência do PSDB] colocou o pastor Silas Malafaia para atacar a Dilma [à época candidata do PT] sobre o tema do aborto. Foi o início. Depois, com Dilma já no poder, o PT fez aquela besteira de entregar a Comissão de Direitos Humanos para o PSC. O presidente, como todos sabem, foi o deputado Marco Feliciano. Na comissão de Direitos Humanos, esses religiosos acharam um espaço para lidar com temas morais. E essa comissão, que antes cuidava das minorias, como a causa indígena, começou a ter uma pauta moralista, a travar uma disputa pela moralidade pública, a replicar aqui temas do fundamentalismo norte-americano, como o ensino religioso e o criacionismo”, criticou.
Em outro trecho da entrevista, Almeida diz que as lideranças evangélicas fazem apologia à violência de forma indireta, como forma de estabelecer seus próprios paradigmas: “Na questão religiosa, os fundamentalistas acabam por fomentar a ação violenta. O que não é novidade: basta lembra que o episódio do pastor da Igreja Universal que chutou uma imagem foi em 1995. É a cultura de demonizar o outro, de vilipendiar as outras religiões. Tem uma coisa cínica no Malafaia: na prática, ele diz: ‘o Estado laico tem de garantir que eu posso demonizar o outro’. É o oposto da noção clássica do protestantismo: de liberdade individual. Mas, no fundo, o que a bancada evangélica mostra são expressões de coisas mais profundas da sociedade: conservadora, violenta, hierárquica e desigual”, resumiu.
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