quinta-feira, 12 de março de 2015

Na CPI, Cunha chama lista de Janot de 'piada' e diz que inquérito 'constrange'

Para presidente da Câmara, PGR quis transferir crise de um poder para outro.
Ele afirmou que foi incluído de forma 'leviana' em investigação da Lava Jato.


Em depoimento na CPI da Petrobras, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta quinta-feira (12) que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o incluiu na lista de investigados da Operação Lava Jato de forma “leviana” para criar “constrangimento”. Cunha classificou os pedidos de abertura de inquérito da Procuradoria Geral da República (PGR) contra 47 políticos de “piada”, “escolha política” e tentativa de transferir a “crise” de um poder para o outro.
“Colocar a honra de quem quer que seja e dizer que o pedido de abertura de inquérito não constrange, constrange! Principalmente, a quem está no exercício do poder. À toa. Colocar de uma forma irresponsável e leviana, por escolha política, alguém para investigação é criar um constrangimento para transferir a crise do lado da rua para cá e nós não vamos aceitar”, declarou Cunha.
Na última terça-feira, o ministro Teori Zavasvki, do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu, a pedido do procurador-geral da República, inquéritos para investigar 47 autoridades com foro privilegiado suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, entre eles Eduardo Cunha e o presidente do Senado,Renan Calheiros(PMDB-AL).
Diante dos integrantes da CPI, o presidente da Câmara negou nesta quinta ter recebido qualquer “benefício indevido” e disse não ter relação próxima com o lobista Fernando Soares, conhecido como "Fernando Baiano" e acusado de ser operador das supostas propinas pagas ao PMDB. Cunha ressaltou ainda que o depoimento do doleiro Alberto Youssef, na parte em que é citado, não foi confirmado nas delações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, um dos delatores da Lava Jato.
“As delações teriam que ter depoimentos coincidentes. Nos pedidos de arquivamento, há casos em que o procurador diz que a declaração feita por um delator não foi confirmada pelo outro delator. Aquilo que Alberto Youssef falou, fazendo menção a Júlio Camargo, não foi confirmada por ele [Júlio Camargo]. O senhor Paulo Roberto Costa não faz menção ao nome de Eduardo Cunha com relação a esse fato”, ressaltou Cunha.
Em seu acordo de delação premiada, Alberto Youssef afirmou que Paulo Roberto Costa intermediou o contrato de aluguel de um navio plataforma da Samsung junto a Petrobras. Para viabilizar o contrato, destacou Youssef, o executivo Júlio Camargo pagou propina a integrantes do PMDB, "notadamente Eduardo Cunha".
De acordo com o doleiro, durante o aluguel dos navios, a Samsung interrompeu o pagamento das “comissões”, portanto, o lobista Fernando Baiano deixou de receber e repassar.
Em razão da suspensão dos pagamentos, relatou Youssef à Polícia Federal, o atual presidente daCâmara apresentou representações em uma comissão da Casa pedindo informações à Petrobras sobre as empresas Toyo e Mitsue, como forma de “pressionar” a retomada dos pagamentos.
Ministério Público
Ao longo de sua manifestação na CPI da Petrobras, Eduardo Cunha voltou a acusar a Procuradoria Geral da República de ter feito uma “escolha de natureza política” ao elaborar a lista de autoridades com foro privilegiado que deveriam ser investigadas pelo Supremo.
“O Ministério Público escolheu a quem investigar, não investigou todos, e por motivações de natureza política escolheu aqueles que seriam alvo de investigação”, enfatizou.
O peemedebista também afirmou que o arquivamento de suspeitas contra alguns políticos, sobretudo contra o ex-senador Delcídio Amaral (PT-MS), é uma “contradição”, já que, para ele, os indícios contra o petista não são menores que os dos demais investigados.  “O arquivamento do senador Delcídio Amaral, e não estou fazendo acusação ao senador, é uma verdadeira vergonha. Existe uma contradição clara”, afirmou.
Cunha disse que ao decidir comparecer espontaneamente à CPI da Petrobras, sem haver convocação, não busca “aplausos ou situação de desagravo”. “O fato de estar aqui hoje para fazer esclarecimentos não impede que eu venha aqui quantas vezes for necessário. Não vim aqui buscar qualquer aplauso ou situação de desagravo. Vim em respeito ao processo investigativo do maior esquema de corrupção desse país", comentou o deputado do PMDB.
Camargo Corrêa
Na CPI, Eduardo Cunha também comentou o fato de ter recebido doações de campanha da construtora Camargo Corrêa, uma das empresas investigadas na Operação Lava Jato. Ele ressaltou que não foi o único deputado a receber recursos da empreiteira para a campanha. De forma irônica, ele listou uma série de parlamentares que também obtiveram doações da construtora, entre os quais vários congressistas do PT.
“Se for para dizer que a doação de empresa da Lava Jato é motivo de abertura de inquérito contra um e contra os outros, não, está se fazendo escolha. Agora, não concordo com a tese de quem recebeu doação oficial tenha feito algo de ilegal. Ilegal é quem faz caixa dois”, reclamou Cunha.

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