sábado, 30 de novembro de 2019

As ONGs promovem oportunidades, enquanto o Governo mata as oportunidades

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

MORO CHAMA BOLSONARO DE EX-PRESIDENTE

Jô Soares em carta a Bolsonaro: “Sua definição é perfeita: vossa excelência é o leão. É o rei dos animais”

Jô ainda comparou o condomínio Vivendas da Barra, onde moram Bolsonaro, o filho Carlos, e o assassinato de Marielle Franco, Ronnie Lessa, de "valhacouto de papalvos", uma espécie de "refúgio de patetas"
Em uma carta irônica publicada na edição deste domingo (10) da Folha de S.Paulo, o “humorista, escritor e influenciador analógico”, como se define, Jô Soares criticou Jair Bolsonaro pelo vídeo em que aparece como um leão enfrentando as “hienas” do STF, do PSL e da mídia, entre outros.
“Sua definição é perfeita: vossa excelência é o leão. Vossa excelência é o rei dos animais!”, afirma o humorista.
Jô ainda comparou o condomínio Vivendas da Barra, onde moram Bolsonaro, o filho Carlos, e o assassinato de Marielle Franco, Ronnie Lessa, de “valhacouto de papalvos”, uma espécie de “refúgio de patetas”.
“A calúnia não para! Agora, querem lhe responsabilizar pelo fato de sua ilibada residência localizar-se na mesma região onde, por uma coincidência estúpida, habitava também um certo Ronnie, de alva notoriedade (mas em outro lar doce lar, é claro!). Sem nenhuma ligação, um valhacouto de papalvos!”, diz o humorista.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

UM POVO BÁRBARO

Apuração do caso Marielle levou 11 meses para expor menção à casa de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia nesta segunda (4) no Palácio do PlanaltoDocumentos do inquérito sobre o assassinato de Marielle Franco mostram que a Polícia Civil do Rio de Janeiro possui há um ano as planilhas com os registros de entrada de visitantes do condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem casa e morou até se mudar para o Palácio do Planalto.
Os papéis contradizem recente versão do Ministério Público do Rio, segundo a qual o órgão só teve acesso aos documentos em 5 de outubro passado, quando afirma ter apreendido o material na portaria do condomínio no curso da investigação sobre o mandante do assassinato da vereadora.
A Divisão de Homicídios da polícia está em poder dos papéis ao menos desde novembro de 2018. Já a Promotoria foi informada desde março deste ano sobre a apreensão das planilhas.
Elas foram obtidas durante a investigação do caso, porque o policial militar aposentado Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do crime, também mora no condomínio Vivendas da Barra, o mesmo de Bolsonaro.
Promotoras do MP-RJ, contudo, haviam afirmado em entrevista na semana passada que as planilhas só foram apreendidas em outubro, após Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz, outro réu no processo, terem confirmado que se encontraram no condomínio horas antes do assassinato da vereadora, em março de 2018.
A promotora que primeiro informou que a planilha não havia sido apreendida foi Carmen Carvalho. Ela se afastou do caso dois dias depois, quando vieram à tona fotos suas em apoio ao presidente Bolsonaro e aliados.
Apesar do acesso anterior às planilhas, ao menos desde março, somente em outubro os integrantes do MP-RJ procuraram o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, para saber se poderiam continuar a investigação depois de o nome do presidente da República ter aparecido na investigação —o aval do STF veio nesta segunda-feira (4).
Como revelado na semana passada pelo Jornal Nacional, uma das planilhas manuscritas indicava que o ex-PM Élcio tinha como destino a casa 58, a de Bolsonaro.
Ainda segundo a reportagem, um porteiro do condomínio declarou em depoimento à Polícia Civil em outubro que "seu Jair" autorizou a entrada de Élcio. Segundo o funcionário, ao notar que o carro se dirigia à casa 65/66, ele contatou novamente a casa 58 para confirmar a autorização. O mesmo interlocutor disse que sabia para onde iria o ex-PM.
Bolsonaro, contudo, estava na Câmara dos Deputados na hora em que o ex-PM entrou no condomínio. Gravação do interfone também indica, segundo perícia do Ministério Público, que a ligação foi feita para a casa 65/66 e a autorização de acesso foi dada por Ronnie Lessa.
Embora toda essa movimentação tenha ocorrido apenas no mês passado, a polícia apreendeu o controle de acesso ao condomínio em novembro de 2018. Já a análise do documento ocorreu até fevereiro.
A Divisão de Homicídios da Polícia Civil obteve na portaria planilhas de entrada de visitantes entre o fim de dezembro de 2017 e outubro de 2018 —as tabelas dividem os acessos de carro e de pedestres. Há ainda um arquivo de programa Excel no qual agentes da unidade transcreveram as informações dos papéis originais.
A transcrição, contudo, se deteve apenas às linhas que indicavam acesso à casa 65/66, de Ronnie, entre fevereiro e março de 2018 —a tabela eletrônica também traz informações na íntegra sobre os acessos ao condomínio em janeiro do ano passado.
Veja quem são os suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco
Veja quem são os suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco
O registro manuscrito da entrada de Élcio mostra que era possível identificá-lo na planilha original. Embora o nome esteja quase ilegível e a indicação da casa seja a 58, e não a do outro acusado, o modelo e a placa do carro usado para acessar o condomínio estão evidentes.
O Logan placa AGH 8202 está em nome da mulher de Élcio. O ex-PM, inclusive, declarou em janeiro deste ano na Delegacia de Homicídios, quando foi interrogado ainda em liberdade, que o usava para transitar pela cidade.
O processo não deixa claro em que circunstâncias essas planilhas foram apreendidas —não consta mandado de busca e apreensão para este fim. Os relatórios do processo que se referem a elas são de fevereiro. O delegado Giniton Lages também fez menção a elas no relatório final do inquérito, de março.
Sem identificar por sete meses a entrada de Élcio no condomínio, a análise da menção à casa de Bolsonaro só passou a ser alvo das autoridades após o interrogatório dos dois acusados, em que reconheceram ter se encontrado no condomínio no dia do crime.
Durante o interrogatório em 4 de outubro deste ano, Élcio foi questionado se frequentava outra casa no condomínio. Ele negou. Questionado se conhecia outro morador do local, disse que não, para depois afirmar apenas que sabia que o presidente vivia lá.
Ronnie Lessa também foi questionado sobre se frequentava a casa de outros moradores. Ele negou sem tecer outros comentários.
As promotoras do MP-RJ afirmaram também que, pouco antes do interrogatório, uma empresa privada conseguiu desbloquear os celulares de Lessa. Num deles foi encontrada uma mensagem de sua mulher com a foto da planilha na véspera do depoimento dos dois acusados na Divisão de Homicídios, quando ainda estavam em liberdade. Os dois foram presos preventivamente em março.
No dia seguinte à divulgação do depoimento do porteiro pelo Jornal Nacional, o Ministério Público divulgou uma perícia segundo a qual uma gravação do interfonema da portaria mostrou que quem autoriza a entrada de Élcio é Ronnie Lessa.
Folha mostrou, contudo, que a análise não considerou a possibilidade que o sistema do computador da portaria do condomínio tenha sofrido algum tipo de alteração, como um arquivo deletado ou renomeado.
A perícia também não analisou se o porteiro da gravação em que Élcio é autorizado a entrar por Ronnie Lessa é o mesmo que prestou depoimento. De acordo com o jornal O Globo, perícia da Polícia Civil aponta se tratar de pessoas diferentes.
Homenagens a Marielle Franco
Homenagens a Marielle Franco
O que disse o porteiro, segundo a TV Globo? Em depoimento, o porteiro afirmou que Élcio de Queiroz, acusado pelo assassinato de Marielle e Anderson, chegou no dia do crime, 14.mar.18, ao condomínio em que Jair Bolsonaro tem casa, na Barra da Tijuca, e disse na portaria que iria à residência do então deputado. O porteiro interfonou para a casa 58 para confirmar se Élcio estava autorizado a entrar e identificou a pessoa que atendeu como “seu Jair”. O porteiro disse que acompanhou a movimentação nas câmeras de segurança e viu que, ao entrar, o carro de Élcio se dirigiu à casa 66. Lá morava Lessa, também acusado pela morte de Marielle. O porteiro ligou novamente para a casa 58 e a mesma pessoa, que ele identificou como “seu Jair”, disse que sabia para onde Élcio se dirigia.
Onde estava Bolsonaro nesse momento? Registros oficiais da Câmara apontam que Bolsonaro participou de votações na Casa às 14h e 20h30, em Brasília. Não podia, portanto, estar no Rio.
Por que o Ministério Público afirmou que o depoimento do porteiro é falso? No dia 30, um dia após a reportagem ir ao ar, o Ministério Público disse que a investigação teve acesso, antes da veiculação da reportagem, à planilha da portaria e às gravações do interfone e comprovou que o porteiro interfonou para a casa 65 (a residência de Lessa ocupa os números 65 e 66).
A entrada de Élcio foi autorizada por Lessa, de acordo com a gravação periciada. Contudo, o Ministério Público admitiu, na quinta (1º), que não considerou a possibilidade de adulteração dos registros e gravações, não averiguando se arquivos foram apagados ou renomeados antes de entregues à Justiça.
Bolsonaro e membros de sua família poderiam ter tido acesso às gravações? Segundo três advogados especializados em questões condominiais, qualquer morador teria o direito de escutar os áudios, mesmo que de outra casa, acompanhados por alguém da administração. De acordo com eles, é comum que imagens das câmeras sejam utilizadas para solucionar problemas menores, como um carro arranhado.
Caso membros da família Bolsonaro quisessem uma cópia das gravações, precisariam de ordem judicial ou de um termo assinado pelo condomínio. Um dos advogados entrevistados afirma ainda que Carlos Bolsonaro não descumpriu a lei divulgando no Twitter as gravações. Ainda assim, ao ceder imagens e gravações, o condômino geralmente assina um termo se comprometendo a manter o material na esfera privada. Bolsonaro negou ter feito cópia das gravações.
Jair ou Carlos obstruíram a Justiça ao acessar os áudios? Especialistas afirmam que não. A obstrução de Justiça teria ocorrido se alguém tivesse se apoderado das gravações originais antes de membros da investigação, impedindo o acesso à prova.
Existe alguma evidência de que membros da família Bolsonaro possam ter adulterado as gravações? Não. A perícia requisitada pelo Ministério Público concluiu que nenhuma gravação foi editada. Ela não esclarece, no entanto, se algum áudio pode ter sido apagado ou renomeado. Para isso, seria necessário periciar o computador onde as gravações são salvas.
Quando Bolsonaro ou familiares acessaram, pela 1ª vez, as gravações? Não se sabe. No sábado (2), Bolsonaro disse: “Pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de anos, a voz não é minha”.
Não ficou claro se ele se referia aos dois vídeos gravados por Carlos, nos quais ele reproduz os áudios da portaria.
Depois, Bolsonaro afirmou: “Não fizemos cópia de nada, não levamos a secretária eletrônica a lugar nenhum”. Questionados, a Presidência e o condomínio não responderam quando foi a primeira vez que qualquer membro da família escutou as gravações.
Já nesta terça-feira (5), em uma rede social, Bolsonaro disse: "Poderia consultar a qualquer época a secretária eletrônica, nada impede a qualquer morador tal procedimento, contudo só foi realizada tal consulta por mim depois de a TV Globo ter vazado um processo que estava em segredo de justiça".
Carlos estava acompanhado quando ouviu os áudios? Ele diz que está na administração, mas não é possível ver ou ouvir outra pessoa.
O condomínio possui sistema que transfere as ligações da portaria para o celular dos moradores?
A questão não foi respondida pela Presidência nem pela administração do local. Algumas outras casas do condomínio não possuem a tecnologia, mas não é possível afirmar que isso valha para a casa de Bolsonaro.
Por que o MP-RJ não pediu a perícia do computador com as gravações da portaria? Questionado, o MP-RJ não respondeu.
O MP-RJ ainda tem a intenção de pedir a perícia do computador para checar se um arquivo foi renomeado ou apagado? Questionado, o MP-RJ não respondeu.
Por que a planilha não foi apreendida em março, quando Lessa foi preso? O Ministério Público afirma que policiais não encontraram referências à casa 65/66 na planilha, motivo pelo qual consideraram a prova sem relevância.
Contradição Embora sem referência à casa de Lessa, a planilha continha referência a Élcio, bem como à placa do carro em nome de sua mulher. Se apreendida, a investigação sobre como o ex-PM entrou no condomínio seria antecipada em quase sete meses.
Por que o circuito interno de vídeo do condomínio não foi apreendido no dia da prisão de Lessa? Nem o Ministério Público nem a polícia do Rio explicam.
Por que Elaine Lessa enviou ao marido uma foto da planilha em jan.19, dois dias antes de ele e Élcio prestarem depoimento? Segundo suspeita o Ministério Público, para avisar que a planilha não indicava a entrada de Élcio na casa de Lessa, o que permitia que em seus depoimentos eles negassem o encontro no dia do crime.
Se o condomínio tem vários porteiros, como a polícia chegou ao que prestou depoimento? Não se sabe.
Por que a perícia não comparou a voz do porteiro na gravação que autoriza a entrada de Élcio com aquele que prestou depoimento? O Ministério Público afirma que o objetivo da perícia foi comprovar que Lessa e Élcio se encontraram naquele dia.
O porteiro foi questionado sobre a contradição entre seu depoimento e o que consta das gravações apreendidas? Não se sabe.
O porteiro foi confrontado com o fato de Bolsonaro estar em Brasília no momento em que Élcio foi ao condomínio? Não se sabe.

sábado, 2 de novembro de 2019

Caso Marielle Franco: Bolsonaro na imprensa INTERNACIONAL

'Não tenho bandido de estimação', diz Witzel sobre vazamento no caso Marielle

RIO — O governador do Rio Wilson Witzel negou com veemência, nesta sexta-feira, que tenha informado o presidente Jair Bolsonaro sobre o aparecimento do nome dele nas investigações do caso Marielle Franco e Anderson Gomes, como o presidente afirmou esta semana.
O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), no lançamento do Rio Smart Hub, na Secretaria de Fazenda Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo— Eu não vazei nenhuma informação sob sigilo e não tive acesso aos autos do processo de investigação do caso Marielle — afirmou. — Não tenho bandido de estimação. Seja ele político, filhos de todo poderoso, miliciano.
O governador também falou sobre as críticas que o presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer a seu respeito:
— São declarações levianas e sem prova. Uma conduta não compatível com a democracia. Não vou permitir atentar contra o povo do Rio e a democracia, pois seria crime de responsabilidade — disse Witzel. — Não esperava esse comportamento do presidente.
Uma reportagem do "Jornal Nacional" mostrou que um dos suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco foi ao condomínio onde mora Bolsonaro, alegando que iria à casa do presidente horas antes do assassinato. Os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em Brasília em 14 de março de 2018. Ainda segundo o depoimento revelado pelo "JN", o porteiro contou que, depois que Élcio entrou, ele acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que o veículo tinha ido para a casa 66 do condomínio, onde, na época, morava Ronnie Lessa.
— Não sei quem é o porteiro. Eu não tive acesso como a Globo teve, como o Witzel teve. O processo corre em segredo. Nós sabemos que são pessoas humildes, que quando são tomados depoimentos sempre estão preocupados com alguma coisa. No meu entender o porteiro está sendo usado pelo delegado da Polícia Civil, que segue ordem do senhor Witzel, governador — disse o presidente.
Bolsonaro também afirmou que, há um mês, ouviu do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, em uma cerimônia na Escola Naval, que iria para o Supremo Tribunal Federal (STF) uma investigação sobre o caso envolvendo o presidente. Witzel teria citado também a Bolsonaro o depoimento do porteiro.
— No (dia) 9 deste mês, outubro, às 21h, eu estava no Clube Naval do Rio de Janeiro quando chegou o governador Witzel. Ele me viu lá, foi uma surpresa eu estar lá. E para mim também, que eu fui ao aniversário de uma autoridade — contou Bolsonaro.

Áudio contradiz porteiro, diz MP

Um dia após a reportagem do "JN", nesta quarta-feira, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) informou que o depoimento do porteiro do condomínio do presidente sobre a liberação da entrada do ex-PM Élcio Queiroz não é compatível com a gravação da chamada feita pelo interfone da portaria.
O MP afirmou que o áudio confirma que quem autorizou a entrada de Élcio no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, foi o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie Lessa . A perícia feita pelo MP, que ficou pronta no dia seguinte à reportagem do "Jornal Nacional", confirmou que a voz é do sargento aposentado. Segundo o órgão, embora a planilha de controle de entradas e saídas no condomínio indique que Élcio teria informado que iria à casa 58, a gravação mostra que houve contato da portaria com a casa 65.
Nesta quinta-feira, uma reportagem da "Folha de S.Paulo" apontou que a perícia do MP que contrapôs o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra na investigação da morte da vereadora Marielle Franco foi incompleta por ter analisado somente os áudios que foram gravados em um CD do condomínio, e não o computador original que poderia apontar eventuais adulterações.

BOLSONARO COMETE "CRIME" DE OBSTRUÇÃO DE JUSTIÇA #EuAcreditoNoPorteiro

Vídeo de Carlos indica manipulação dos arquivos de áudio do condomínio


Vídeo de Carlos indica manipulação dos arquivos de áudio do condomínio


Na última quarta-feira, 30, Carlos Bolsonaro publicou um vídeo mostrando uma lista dos arquivos de áudio da portaria do condomínio Vivendas da Barra referentes ao dia 14 de março de 2018, com o intuito de “provar” que a entrada de Élcio de Queiroz no condomínio, horas antes do assassinato de Marielle Franco, foi autorizada por Ronnie Lessa, e não por seu pai, Jair Bolsonaro, como afirmou o porteiro e como consta no livro de visitas do número 3100 da avenida Lúcio Costa, Barra da Tijuca.
No próprio vídeo, porém, há pelo menos um forte indício de que é falso que Carlos simplesmente tenha chegado na administração do condomínio e mostrado os arquivos tal e qual eles foram originalmente e automaticamente salvos na máquina; há pelo menos um forte indício de que pastas e arquivos de áudio da portaria do Vivendas da Barra foram manipulados, mexidos, pelo menos movidos de um local para outro num mesmo computador, ou em computadores diferentes, por Carlos ou por terceiros, visando especificamente o dia da morte de Marielle e Anderson.
No vídeo de Carlos, os arquivos de áudio do dia 14 de março de 2018 aparecem arquivados na pasta “2018_03_14”, que por sua vez aparece armazenada no diretório “gravações”. No diretório “gravações”, porém, não há outras pastas, referentes às gravações de outras datas, como seria de se esperar. Isto indica que os arquivos de áudio das chamadas da portaria referentes ao dia do crime foram, na melhor das hipóteses, copiados de um lugar e colados em outro. Na pior das hipóteses, arquivos podem ter sido renomeados ou apagados.
Veja uma comparação da imagem do diretório aberto “gravações” do vídeo de Carlos Bolsonaro com a imagem de um diretório aberto do Windows onde há mais de uma pasta:


Além disso, o diretório “gravações” é uma partição “Z:”. No Windows, é possível criar e nomear partições de “A:” a “Z:”. A partição “Z:” costuma ser criada para guardar ali a “imagem” do Windows visando a reinstalação do sistema operacional sem necessidade de um CD de instalação, em caso de formatação da máquina. Formatar o computador é uma belíssima maneira de apagar arquivos sem que seja possível alguém recuperá-los.

A ‘perícia’ do MP periciou um CD

O porteiro afirma ter falado com Bolsonaro às 17h10, para autorizar a entrada de Élcio de Queiroz. Afirma ter falado com Bolsonaro de novo logo em seguida, quando percebeu, por câmeras, que o carro de Élcio tinha se dirigido na verdade para a casa de Ronnie Lessa. No vídeo, o áudio mostrado por Carlos Bolsonaro em que o porteiro anuncia Élcio agora a Ronnie Lessa é de três minutos depois, às 17h13. Três minutos é um tempo razoável para passar entre uma entrada confusa de um visitante em um condomínio até o anúncio, por um porteiro sem nada entender, do nome do visitante ao dono da casa que seria de fato visitada.
Na última quinta-feira, 31, este Come Ananás mostrou que o Ministério Público do Rio mentiu ao afirmar categoricamente que tinha em mãos prova técnica de que a versão do porteiro não corresponde à realidade. Isso porque a perícia feita pelo Ministério Público nos arquivos de áudio da portaria do Vivendas da Barra avaliou apenas se houve adulteração deste ou daquele arquivo. A perícia não se debruçou sobre a possibilidade de algum registro de áudio da portaria ter sido deletado antes de ser entregue à Polícia Civil, o que é o próprio xis da questão.
No mesmo dia, mais tarde, a Folha de S.Paulo publicou reportagem intitulada “MP-RJ ignorou eventual adulteração em sistema de gravação em portaria de Bolsonaro“. Sem uma perícia no computador do Vivendas da Barra, não é possível aquela prova técnica existir, conforme ressaltou nesta sexta-feira, 1º de novembro, em nota, o Sindicato dos Peritos Oficiais do Estado do Rio de Janeiro (Sindperj):


Se ainda não há provas, há fortes indícios, e produzidos pelo próprio “clã” contra si, de que os arquivos das chamadas da portaria do condomínio Vivendas da Barra gravados no dia do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes foram alterados.
Pois bem, alguém nesta República irá buscar o “equipamento original”?
Atualização:
Concomitantemente à publicação deste artigo, o portal G1 repercutiu às 13h17 deste sábado declaração de Jair Bolsonaro, presidente da República, dizendo que “pegou” as gravações do Vivendas da Barra “antes que fossem adulteradas”. É a confirmação de que o “clã” Bolsonaro mexeu nos arquivos de áudio da portaria do condomínio referentes ao dia do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Trata-se do presidente da República confessando crime de obstrução da Justiça.