O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), protagonizaram nesta quarta-feira (22/2) um confronto público, escancarando uma disputa travada há tempos, nos bastidores.
Moreira e Jucá são articuladores políticos do Palácio do Planalto e a discussão, que começou com a reforma da Previdência, chegou ao gabinete do presidente Michel Temer. “Nosso partido não tem tradição leninista”, afirmou o ministro. Moreira já vinha demonstrando descontentamento com Jucá, presidente do PMDB, por causa das declarações do colega contra a Lava Jato, que, na sua avaliação, causam embaraços a Temer.
O estopim da nova crise, porém, foi uma entrevista ao jornal Valor, na qual o ministro disse que o PMDB não fechará questão sobre a reforma da Previdência porque isso “contraria as tradições do partido”. No jargão do Congresso, fechar questão significa que todos os parlamentares de determinada sigla são obrigados a votar de acordo com a orientação partidária.
As afirmações de Moreira foram feitas no mesmo dia em que Temer se reuniu com líderes de partidos da base aliada e sindicalistas para convencê-los da importância de aprovar a polêmica reforma da Previdência. Auxiliares do presidente disseram que a entrevista provocou reação no mercado e funcionou como um “sinal confuso” para o Congresso.
Moreira foi além e, perguntado na entrevista se Jucá falava em nome do governo – quando comparou a Lava Jato à Inquisição e disse ser preciso “estancar essa sangria” -, não escondeu o mal-estar. “Não, não fala. Ele disse que não falava pelo governo. Quando soubemos (das declarações de Jucá), nós ficamos surpresos porque não havia sido feita consulta”, respondeu. “Não é fácil um líder falar uma coisa, ter a reação que teve, ser líder do governo e dizer que não era líder do governo quando falou aquilo.”
O núcleo político do Planalto também ficou atônito diante de uma afirmação feita por Jucá ao Estado. Na terça-feira (21/2) o senador disse que restringir o foro privilegiado de políticos – deixando de fora magistrados e integrantes do Ministério Público – seria uma “suruba selecionada”. “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”, afirmou Jucá, que no dia seguinte pediu desculpas a quem tenha se sentido ofendido.
Ao ler a entrevista de Moreira, no entanto, o senador ficou furioso. Combinou com Temer uma resposta sobre a parte relacionada à reforma da Previdência, na tentativa de “esclarecer” a questão, já que comanda o PMDB. Em nota, Jucá lembrou que a legenda não tomou nenhuma posição a respeito de liberar o voto. “Ao contrário, o partido tem discutido com a bancada federal da Câmara dos Deputados a possibilidade de fechamento de questão assim como foi feito na votação da PEC que limita os gastos públicos. Tal assunto também não foi tratado pelo presidente do partido”.Horas depois, Moreira divulgou uma nota para repetir que o PMDB nunca adotou essa prática. “Eu tenho uma longa militância no PMDB e no MDB. O partido, na sua história, nunca fechou questão (em votações). Sempre usamos a política para convencer as pessoas, formar as maiorias e, às vezes, até a unanimidade. Quando coloquei essa questão, coloquei dentro desse contexto. De um partido que pratica a democracia e, por isso, jamais será leninista”, escreveu o ministro.
Da mesma forma que Jucá, Moreira também conversou com Temer após a polêmica. Foi a partir daí que houve a sucessão de notas. O chefe da Secretaria-Geral da Presidência fez questão de destacar que “não quis ultrapassar ou sobrepor” a autonomia da bancada do PMDB da Câmara, do Senado ou da direção partidária.
“Se prevalecer a maioria pelo fechamento de questão (em torno da reforma da Previdência), estarei na linha de frente defendendo essa posição partidária. Mas repito: nosso partido não tem tradição leninista”, afirmou Moreira.
Jucá e Moreira também se estranharam, nos últimos dias, por causa da distribuição do dinheiro do Fundo Partidário para cobrir despesas eleitorais. Irritado, o senador mandou os presidentes de diretórios estaduais do PMDB procurarem Temer para resolver o imbróglio.
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