BRASÍLIA (Reuters) - A oposição ao governo do presidente interino Michel Temer acusa o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de manobrar para adiar a votação em plenário da cassação de seu antecessor, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Maia tem dito reiteradamente que colocará o tema em pauta assim que tiver certeza de que haverá quórum, já que a Casa sofre um tradicional esvaziamento por conta da proximidade das eleições municipais de outubro e neste ano há a peculiaridade dos Jogos Olímpicos neste mês no Rio de Janeiro.
Mas para a nova oposição, no entanto, o argumento é fraco e dá pistas de um possível acordo com o presidente Temer para postergar o caso de Cunha para depois do julgamento final do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
"O Michel Temer está com medo da delação premiada do Cunha", alfinetou o vice-líder da oposição, Sílvio Costa (PTdoB-PE).
"O problema não é quórum, o Rodrigo Maia sabe que na hora que ele pautar (a cassação no plenário da Câmara) vai dar quórum."
O deputado afirmou ainda que irá sugerir aos demais líderes da oposição que obstruam todas as votações até que Maia defina uma data para a análise do processo de Cunha.
Na mesma linha, o líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), alertou para o risco de se protelar a votação. De acordo com o parlamentar, há um temor de que Cunha "caia atirando", razão pela qual, segundo Valente, seria mais interessante para o governo deixar a cassação para depois do impeachment.
Se aceitar a pronúncia da presidente afastada, o Senado deve iniciar o julgamento final do impeachment de Dilma no fim deste mês.O processo de cassação de Cunha --que já dura quase 10 meses-- precisa ser lido no plenário da Câmara, para ser submetido a voto 48 horas depois .
O deputado é alvo de processo por quebra de decoro parlamentar sob a acusação de ter mentido em depoimento à CPI da Petrobras no ano passado, quando negou ter contas bancárias no exterior.
No ano passado, em audiência na CPI, Cunha afirmou ter apenas as contas bancárias declaradas em seu imposto de renda. Mas documentos dos Ministérios Públicos do Brasil e da Suíça apontaram contas em nome de Cunha e de familiares no país europeu. O parlamentar nega as irregularidades.
Ao se defender pessoalmente em uma audiência no Conselho de Ética da Câmara, o deputado afastado negou ser o dono das contas, mas admitiu ser o beneficiário de um trust.
Cunha também é réu em duas ações penais que correm no Supremo Tribunal Federal (STF).
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