A revista Scientific American publicou um artigo sobre o trabalho de Hayashi, escrito por David Cyranoski, que explora a técnica usada para a criação de células germinativas – esperma e óvulo –, cujos métodos foram desenvolvidos por seu colega Mitinori Saitou, da Universidade de Kyoto, no Japão.
Cyranoski disse que muitos cientistas tentam criar tipos específicos de células in vitro bombardeando as células-tronco com as moléculas de sinalização e, em seguida, escolhendo aqueles que desejam na mistura resultante de células maduras. “Porém, nunca fica claro por meio de qual processo essas células são formadas ou quão semelhantes às versões naturais elas realmente são”.
Os esforços de Saitou para descobrir exatamente o que é necessário para produzir as células germinativas, como se livrar de sinais supérfluos e de que forma observar o momento exato em que as várias moléculas entram em cena impressionaram seus colegas. Segundo o artigo de Cyranoski, há realmente uma bela mensagem escondida neste trabalho: que a diferenciação de células in vitro não é nem um pouco fácil de ser feita – porém, é possível. Harry Moore, biólogo especialista em células-tronco, da Universidade de Sheffield, Reino Unido, se refere ao cuidadoso desenvolvimento das células germinativas como “um triunfo”.
Hyashi trabalhou com Saitou para criar novas técnicas que não necessitassem de células-tronco. Isto eventualmente levou ao desenvolvimento de um rato vivo criado a partir de células da pele que tinham sido transformadas em células germinativas. As implicações foram surpreendentes. As células de um rato macho poderiam ser convertidas em óvulos. Os ratos que eram inférteis poderiam se tornar férteis novamente, transformando as células da pele em células germinativas viáveis. Outros grupos de pesquisa têm replicado os resultados da equipe, embora nenhum estudo tenha conseguido produzir outro bebê viável.
Quando a notícia dos resultados da pesquisa foi divulgada, o público foi à loucura. Não porque as pessoas se preocupam com a infertilidade dos ratos, mas porque todos esperam que esse processo possa ser válido também em seres humanos. Isso pode significar uma nova esperança para os casais inférteis. Além disso, casais homossexuais no futuro poderão ter filhos geneticamente gerados de dois homens ou de duas mulheres.
Agora, a equipe está se concentrando nas pesquisas em seres humanos. Cyranoski explica que o grupo já iniciou a fase de ajustes das células-tronco de pluripotência induzida (iPS, da sigla em inglês) humanas utilizando os mesmos genes que Saitou apontou como sendo importantes no desenvolvimento das células germinativas do rato. No entanto, tanto Saitou quanto Hayashi sabem que as redes de sinalização humanas são diferentes das encontradas nos ratos.
Além disso, enquanto Saitou possuía um número quase infinito de embriões vivos de rato com os quais trabalhar, a equipe não tem acesso a embriões humanos. Em vez disso, os pesquisadores recebem 20 embriões de macacos por semana de uma reserva de primatas nas proximidades, sob uma concessão de ¥ 1,2 bilhão (R$ 30 milhões) ao longo de cinco anos. “Se tudo correr bem, poderemos repetir os resultados obtidos em macacos dentro de 5 a 10 anos. Com pequenos ajustes, este método pode então ser utilizado para produzir células germinativas humanas pouco tempo depois.
Mas daí para produzir esperma e óvulos que poderão ser utilizados no tratamento de infertilidade ainda será um salto enorme. Por isso, muitos cientistas – incluindo Saitou – estão pedindo cautela. As células iPS, assim como as células-tronco embrionárias, frequentemente desenvolvem anormalidades cromossômicas, mutações genéticas e irregularidades epigenéticas. “Poderemos ter consequências potencialmente profundas e em várias gerações se algo der errado, mesmo que de uma maneira sutil”, alerta Moore.
Em outras palavras, os seres humanos são muito mais complexos do que os ratos. E, claro, fazer experimentos com embriões humanos é muito mais eticamente problemático. Ainda assim, é uma pesquisa que abre as portas para uma fascinante área da reprodução humana. Agora é esperar para ver as consequências em nossas vidas.
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