Em meio à pressão dos protestos e das críticas de aliados, a presidente Dilma Rousseff esboçou nesta semana as primeiras reações para tentar sair do labirinto político no qual se encontra. Os sinais de mudança, ainda tímidos, já começam a aparecer.
O ponto de partida foi uma série de reuniões com ministros, o vice-presidente Michel Temer e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que, em equipe, sejam encontradas soluções para melhorar a articulação política, um dos pontos fracos do governo Dilma.
Além disso, no início desta semana, numa aparente tentativa de se desfazer da imagem de intransigente e autoritária, Dilma assumiu uma postura mais humilde e declarou estar aberta ao diálogo. "Vamos fazer os ajustes necessários, dialogando com todos, numa posição de humildade, mas com firmeza, para que possamos chegar a um bom resultado", disse.
E, nesta quarta-feira (18/03), Dilma enviou um pacote de medidas anticorrupção para o Congresso. E expressou uma posição clara, afirmando que seu compromisso com o combate à corrupção e à impunidade é coerente com sua vida pessoal, com sua prática política e com sua atuação como presidente. "O que diferencia um país do outro e um governo do outro é o fato de que alguns países – e alguns governos – criam condições para que a corrupção seja prevenida, investigada e punida", disse.
Protagonismo contra a corrupção
A situação da presidente é complicada desde a eleição de outubro. Apesar de Dilma ter saído vitoriosa, a pequena diferença em relação ao principal concorrente, Aécio Neves, aqueceu os ânimos da oposição. A isso somam-se a desaceleração cada vez mais forte da economia, o que se reflete no humor dos brasileiros, e o escândalo de corrupção na Petrobras, que atingiu em cheio a base aliada e o próprio PT.
Só que, problemas à parte, um observador externo poderia ter a impressão de que Dilma parecia não perceber que patinava sobre gelo fino e continuou ignorando os problemas, que se acumulavam. Se era assim, os protestos, principalmente a megamanifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, serviram para acordar a presidente.
Para o cientista político Alexandre Gouveia, da UnB, devido à demora em agir, é essencial que Dilma se torne agora protagonista do combate a corrupção. "O que muitas vezes prejudica uma ação política não é o conteúdo e a forma, mas o timing [fazer a coisa certa na hora certa]. E, é justamente o timing que está prejudicando a presidente. O governo demorou a tomar atitudes e só ia a público depois que a crítica estava instalada", completa.
Popularidade e economia
Mas só o combate a corrupção não é suficiente para diminuir a insatisfação popular. Dilma precisa, sobretudo, resolver os problemas econômicos. "Um grande problema de qualquer presidente é quando a economia vai mal. É praticamente impossível segurar a popularidade com expectativas pessimistas em relação à inflação e ao emprego. A popularidade da Dilma depende muito do ajuste econômico que está sendo feito", afirma o cientista político Pedro Floriano Ribeiro, da Universidade Federal de São Carlos.
Para o economista Diego Sánchez-Ancochea, da Universidade de Oxford, o governo tem uma boa margem de manobra para acelerar a economia. "O deficit público é gerenciável, e a inflação não é particularmente alta", avalia. Para estabilizar o cenário, Dilma precisa adotar medidas de médio prazo de ajuste fiscal, que reduzam os gastos do governo.
Os primeiros passos nesse sentido já foram adotados, como o decreto que, no início de janeiro, cortou as verbas destinadas aos 39 ministérios até a aprovação, nesta terça-feira, do Orçamento de 2015; e o aumento de alguns impostos, como a redução da desoneração da folha de pagamentos das empresas.
Sánchez-Ancochea, reforça, no entanto, que é essencial que o governo explique para a população que a desaceleração na economia leva ao corte de alguns benefícios. A implementação das medidas, porém, deve se dar de forma gradual e seletiva. Dilma já sinalizou que vai agir nesse sentido, por exemplo com os ajustes nas regras do seguro-desemprego ou de pensões.
Além disso, para atrair mais investidores ao Brasil, são necessários uma reforma tributária, a redução do chamado custo Brasil e investimentos em infraestrutura, sendo o programa de concessões à iniciativa privada uma opção nesse momento de redução de gastos.
Recuperar os aliados
Todo esse esforço para recuperar a economia, no entanto, não depende apenas de Dilma. Para conseguir governar e promover mudanças, a presidente precisa urgentemente recuperar o apoio do Congresso. Os graves problemas na articulação política sugerem que um primeiro passo seria a troca de seus interlocutores. Observadores da cena política afirmam que os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Pepe Vargas (Relações Institucionais), não têm o jogo de cintura necessário para essa tarefa.
Além disso, Dilma terá que dar mais espaço aos aliados no governo, ou seja, integrá-los mais em suas decisões e, claro, oferecer ministérios. Ela precisa recuperar o apoio principalmente do PMDB, partido que ficou com as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados e, ao menos na teoria, pertence à base aliada.
Só que exemplos não faltam de como o PMDB vem travando uma batalha de poder com o governo. No início do mês, o presidente do Senado, Renan Calheiros, devolveu o projeto de Dilma para desonerar a folha de pagamentos das empresas, justamente uma das medidas do ajuste fiscal. Nesta quarta-feira, o PMDB praticamente exigiu a demissão do ministro da Educação, Cid Gomes – e foi atendido. Gomes havia chamado os deputados de "achacadores".
"O controle que o PMDB tem na Câmara e no Senado que vai muito além do número de deputados e senadores e passa pela ocupação dos principais postos de decisão, ou seja, não só a presidência das casas, mas também outros cargos estratégicos. Além disso, há ainda a experiência dos políticos do partido, que têm um trânsito muito grande junto ao baixo clero do Congresso", afirma Ribeiro.
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