À primeira vista, parece um delírio: um supercarro elétrico de 912 cavalos de potência, vindo de uma ilha do Índico mais conhecida por suas belas praias e pelo seu saboroso chá, e não por sua tecnologia de ponta.
No entanto, a equipe por trás do incrível modelo esportivo Vega tem um currículo caprichado e uma boa injeção de financiamento, comparáveis com os projetos pioneiros que emergem do Vale do Silício.
O carro é criação do empreendedor da área de tecnologia Harsha Subasinghe, diretor-executivo da CodeGen, uma empresa desenvolvedora de softwares para a indústria do turismo e com sede em Colombo, a capital executiva do Sri Lanka.
Montar um carro esporte de luxo é certamente um grande passo para Subasinghe, mas seus objetivos são muito mais ambiciosos do que simplesmente ter uma rápida aceleração de 0 a 100 km/h (3,5 segundos, segundo os engenheiros por trás do Vega).
Medo do ridículo
Subasinghe enxerga o veículo não apenas como uma supermáquina elétrica, mas como uma demonstração da capacidade do Sri Lanka de desenvolver tecnologias avançadas de transporte.
"Fazer as pessoas acreditarem que um projeto de engenharia tão complexo quanto um supercarro esporte possa vir do Sri Lanka é um enorme desafio para nós", afirma Beshan Kulapala, gerente de projetos do Vega e engenheiro com 13 anos de experiência na Intel. "Nosso país produz alguns dos melhores engenheiros do mundo, mas, no passado, não nos envolvemos no desenvolvimento de produtos inovadores por medo de sermos ridicularizados."
Do ponto de vista puramente tecnológico, parece que isso não vai acontecer. O carro apresenta um desenho sofisticado, equiparável aos mais luxuosos modelos europeus e americanos, e uma dose considerável de inovação por baixo da lataria.
Motores elétricos duplos comandam as rodas traseiras, produzindo uma potência de 912 cavalos combinada com um torque de motor de 73 kgf.m. A carroceria em fibra de carbono ajuda a manter o peso do carro em 1,3 toneladas – algo impressionante, se considerada a densidade das baterias de íons de lítio a bordo.
A equipe, composta de mais de 30 engenheiros e outros profissionais, está desenvolvendo o que Kulapala chama de controlador de motor de ponta e uma nova maneira de pensar as baterias. "Os módulos de bateria de lítio apresentam uma série de inovações em seu acondicionamento, sua segurança, seu gerenciamento, e em hardware, software e firmware. Nosso diferencial eletrônico também vai usar algoritmos para controlar o veículo em diferentes condições externas", explica.
Será que o carro terá os mesmos dispositivos que fazem a fama de uma Ferrari e de uma Lamborghini? Talvez não, mas o Vega não será uma lesma nas pistas. A aceleração 0-100 km/h em 3,5 segundos o coloca no clube exclusivo dos supercarros, e a engenharia costumizada deve ajudar o veículo a chegar a uma velocidade máxima de 240 km/h
Mercado: o maior desafio
Lançar o Vega no mercado, no entanto, poderá ser o maior desafio. A matéria-prima e as ferramentas de precisão necessárias para a manutenção dos componentes principais nem sempre estão disponíveis no Sri Lanka, segundo Kulapala.
Mas este é um país cheio de surpresas. Sua renda per capita dobrou desde 2005, e a base de assinantes de telefonia celular cresceu 550% entre 2005 e 2010. O Sri Lanka também foi a primeira nação do sul da Ásia a introduzir a tecnologia de internet banda larga móvel.
"Com a enorme quantidade de dados disponíveis online, conseguimos aprender e acumular conhecimentos que talvez não tivéssemos se a internet não existisse", afirma Kulapala. "É verdade que vamos precisar de tempo para adquirir experiência, mas com uma pesquisa disciplinada conseguiremos não falhar onde outros já falharam, e poderemos ser rápidos em projetar e montar produtos".
Subasinghe, o diretor da CodeGen, investiu mais de US$ 500 mil nos custos de desenvolvimento inicial para tirar a ideia do papel. É claro que o orçamento chegará a dezenas de milhões de dólares quando o desenvolvimento e os testes dos protótipos começarem, e a empresa está gradualmente injetando dinheiro em cada etapa do processo.
Kulapala acredita que o primeiro protótipo possa ficar pronto já em abril, e que o próximo passo seja afinar a tecnologia.
Assim como todo fabricante de supercarros sabe bem, a estrada entre o sonho e a realidade é bem longa. Será que o Vega vai conseguir chegar lá? Bem, os cingaleses já mostraram uma tenacidade e uma criatividade impressionantes nos últimos anos, reconstruindo o país após uma guerra civil brutal e o devastador tsunami de 2004. O Sri Lanka parece bem equipado para ir longe.
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