sexta-feira, 13 de março de 2015

Ato com grupos pró e contra Dilma deixa manifestantes em alerta para confronto

Sindicalistas, sem-terra, professores e grupos hostis ao governo fazem nesta sexta-feira na Avenida Paulista a primeira manifestação da nova jornada de protestos que deverá marcar nas ruas posições que – a favor ou contra –  podem ser decisivas para o destino do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Coração financeiro do País e uma espécie de tambor, a Paulista abrigará, ao longo do dia, grupos radicais antagônicos, o que eleva os riscos de um conflito graças, em boa parte, ao estilo de segurança adotado pela Polícia Militar.
O “sai um e entra outro”, pactuado pela PM em nome do livre direito de manifestação, é um salto no escuro, conforme alerta um sucinto ofício enviado ao secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), líder dos grupos que pedirão a preservação da Petrobras, dos direitos dos trabalhadores e das regras democráticas e reforma política. Não citam Dilma, mas está implícito o ato em defesa de seu mandato pela manutenção das regras eleitorais.
“Temos informações de que grupos conservadores decidiram confrontar nossas posições, chamando um ato para o mesmo dia, horário e local. Em função disso, solicitamos total segurança aos participantes da classe trabalhadora. Entendemos que estamos exercendo nosso direito de manifestação pacífica e democrática”, diz o ofício, subscrito por 11 entidades que organizam o ato, lideradas pela CUT, União Nacional dos Estudantes (UNE) e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Responsável pela negociação com as entidades, o coronel Reynaldo Zychan, chefe do Comando de Policiamento da Capital, sustenta que a PM está preparada tanto para evitar os confrontos quanto para garantir o direito de ir e vir de quem não participará dos protestos.
“Quem quer violência fique em casa”, alertou o militar. A PM isolará os dois grupos e espalhará policiais à paisana pelas cercanias da Paulista para identificar infiltração de vândalos ou provocadores. Um dos planos é fazer com que, a partir do encerramento das manifestações pró-governo, os participantes fiquem restritos aos quadrados de seus respectivos atos. O problema é que entre as 15h e as 16h os dois grupos estarão bem próximos, dividindo espaços comuns entre o prédio da Petrobras, no número 901, e o vão do Masp, na altura do 1.500.
Num encontro que reuniu os dirigentes dos dois grupos, no início da semana, no comando da PM, os representantes da CUT e do Revoltados Online – que prega o impeachment da presidente Dilma Rousseff –, mesmo na frente do coronel Zychan, protagonizaram suas diferenças. Marcelo Reis, do Revoltados, provocou Renato Carvalho, dirigente da CUT, acusando-o de representar um movimento manipulado pelo PT. Disse que temia um repetição do conflito ocorrido no Rio, há duas semanas, em frente à Petrobras, onde grupos pró e contra o governo entraram em confronto físico. Carvalho disse depois que fez questão de ignorar a provocação.
Exército de Stédile
Do ato do Rio, em que participaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o principal coordenador do MST, João Pedro Stédile, surgiu o combustível que a direita esperava: “Quero paz e democracia, mas, se eles não querem, nós sabemos brigar também, sobretudo quando o João Pedro Stédile colocar o exército dele do nosso lado.”, disse Lula ao exortar os trabalhadores a sair às ruas para defender o mandato de Dilma. A declaração – embora se saiba que foi apenas uma infeliz frase de efeito – ressuscitou até os órfãos da ditadura entrincheirados nos clubes militares que, numa retórica bélica, trataram o “exército de Stédile” como se fosse o prenúncio de um conflito com as Forças Armadas.
O último episódio do ato se viu nesta quinta-feira(12), pelas redes sociais, com a divulgação de um cartaz, com a foto de Stédile, título e texto, em que se oferece uma recompensa de R$ 10 mil para quem matar o dirigente do MST. O MST levou o assunto a sério e emitiu uma nota oficial pedindo que as autoridades competentes investiguem um tal de Paulo Mendonça, guarda municipal de Macaé (RJ), suposto autor da oferta.
O presidente do PT estadual, Paulo Fiorilo, acha provável que grupos de direita tentem repetir as provocações do Rio e afirma que existe, sim, o risco de confronto. “Não vamos entrar nas provocações da direita. Queremos fortalecer a Dilma e a democracia, mas também respeitamos os espaços de quem é contra. O confronto não nos interessa”, diz ele.
“Queremos acreditar que não haverá conflito, mas se surgir provocação ou alguém que queira nos intimidar, poderá acontecer. Os trabalhadores vão para defender a Petrobras e seus direitos de forma pacífica”, afirma o presidente da CUT estadual, Adi dos Santos Lima.
Entre as entidades que participam do ato desta quinta-feira, o MST, com 36 anos de jornada, como se sabe, é a mais organizada e preparada para eventuais conflitos. O movimento deve encorpar a manifestação da Paulista com cerca de cinco mil integrantes, entre os quais estarão Stédile e os militantes mais experientes.
Nas manifestações desta sexta, a esquerda que defende o mandato de Dilma contará ainda com a União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Movimentos Populares (CMP), Levante Popular da Juventude (LPJ), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FAF), Movimento Nacional das Populações de Rua (MNPR), União Nacional de Moradia Popular (UNMP) e Mídia Ninja. A oposição e a direita respondem com cinco entidades: Revoltados Online e quatro movimentos: Internacional Independente, Vem Pra Rua, Brasil Livre e Renovação Liberal.

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