sexta-feira, 6 de março de 2020

Brasil remove diplomatas da Venezuela e exige que Maduro retire seus funcionários do país

Nicolás Maduro durante pronunciamento na TV: presidente venezuelano pede que mulheres tenham mais filhos Foto: MARCELO GARCIA / AFPO governo brasileiro informou nesta quinta-feira em portarias publicadas no Diário Oficial a remoção de quatro diplomatas e 11 funcionários brasileiros de sua embaixada em Caracas, dos consulados na capital venezuelana e em Ciudad Guayana e do vice-consulado em Santa Elena do Uairén, cidade próxima à fronteira com Roraima. Além disso, diplomatas e funcionários da Chancelaria venezuelana teriam sido informados no início deste mês que têm 60 dias para deixar o Brasil, informou uma fonte próxima ao Palácio do Planalto. Caso contrário, serão expulsos do país.
O processo de retirada total dos funcionários brasileiros na Venezuela, informaram fontes, também pode demorar em torno de dois meses, mas os diplomatas e demais representantes do Brasil em Caracas receberam a confirmação de sua remoção na última quarta-feira.
Com a retirada, os brasileiros na Venezuela perderão acesso a serviços como emissão de passaporte e certidão de nascimento. Brasília ainda está estudando como será prestada a assistência consular, informou uma fonte. Estima-se que cerca de 10 mil brasileiros vivam na Venezuela.
No caso dos diplomatas, a portaria publicada no Diário Oficial informa da decisão de remover a ministra de primeira classe Elza Moreira Marcelino de Castro e os conselheiros Francisco Chaves do Nascimento Filho, Carlos Leopoldo Gonçalves de Oliveira e Rodolfo Braga.

Divergências em Brasília

Uma fonte em Brasília revelou que nem todos os integrantes do governo brasileiro pensam da mesma forma. Praticamente a única via de comunicação entre autoridades do Brasil e da Venezuela, os militares não teriam ficado satisfeitos com a medida, sob o argumento de que é preciso manter um mínimo de contato com a equipe do presidente Nicolás Maduro, formada, em sua maioria, por representantes das Forças Armadas venezuelanas.
A decisão do governo de Jair Bolsonaro de remover seus diplomatas dseria, nas palavras de uma fonte que acompanha de perto a situação, “uma jogada para chegar a um divórcio amistoso”.
— O Brasil não quer uma ruptura com escândalo — disse a fonte.
O governo canadense adotou uma medida similar no ano passado, sem romper relações com a Venezuela. Procurado, o Itamaraty disse que não iria comentar a remoção, e o governo brasileiro não informou, ainda, se adotará uma posição mais extrema. Também não está claro o que acontecerá com os imóveis que pertencem ao Estado brasileiro, entre eles a residência do embaixador, num dos bairros mais sofisticados da capital venezuelana, o Country Club, que passou por uma reforma quase total há alguns anos. Lá estão móveis e obras de arte de alto valor, cujo destino ainda é incerto.
Segundo fontes brasileiras, também deixará o posto nas próximas semanas o encarregado de negócios, Rodrigo Andrade, adidos militares e outros funcionários.

Credenciais vencidas

Atualmente, 28 diplomatas venezuelanos no Brasil estão com suas credenciais vencidas e apenas cinco ainda estão em situação regular. Há cerca de duas semanas, o governo Maduro anunciou que uma das diplomatas, Irene Rincon, seria promovida a encarregada de negócios, mas a decisão não foi reconhecida pelo governo brasileiro.
Especula-se que o adido militar do governo chavista, general Manuel Barroso, com visto vigente até 2021, seja mencionado numa futura lista de sanções aplicadas pelo governo americano. Nesse caso, a situação de Barroso no Brasil ficaria insustentável.
— O governo Bolsonaro está se antecipando aos fatos — frisou a fonte.
Relações difíceis
As relações entre o Brasil e a Venezuela estão tensas desde que o Brasil impulsionou a suspensão de Caracas do Mercosul, em agosto de 2017, durante o governo de Michel Temer. No mesmo ano, o governo de Nicolás Maduro expulsou o então embaixador brasileiro, Rui Pereira. Desde então, o Brasil é representado em Caracas por um encarregado de negócios, e Maduro mantém também um representante provisório em Brasília, Freddy Meregote, que, no governo Bolsonaro, deixou de ter qualquer interlocução com o Itamaraty.
No início de 2019, o governo Bolsonaro reconheceu a "Presidência interina" de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional (AN) de maioria opositora e que teve suas prerrogativas anuladas pela Justiça controlada por Maduro. A relação com Maduro é quase nula, com exceção de um limitado canal militar existente entre as Forças Armadas dois dois países.

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