O périplo no discreto evento, que tinha apenas 15 deputados, foi mais um corpo a corpo de Maia. Ele parece estar em campanha: vem se movimentando intensamente nos bastidores do colégio eleitoral que escolherá o substituto de Temer, caso a Câmara aprove o prosseguimento da ação penal contra o presidente e o Supremo Tribunal Federal não a rechace.
A residência do presidente da Câmara já foi palco de jantares que receberam dezenas de deputados de todos os matizes ideológicos na segunda e na terça-feira passadas. Oficialmente, os assuntos que foram tratados eram sempre pautas da Câmara, como a reforma política e a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, necessária para que haja o recesso de julho. Na boca dos parlamentares, porém, eram recorrentes conversas sobre a possibilidade cada vez mais concreta de Maia assumir a Presidência da República.
De perfil discreto, Maia sempre foi fiel ao governo Temer. Com o acirramento da crise política, ele e seu partido vem reiterando que Maia está seguindo seu papel institucional à risca, sem interferir contra ou a favor do governo no andamento dos trabalhos do parlamento. Os sinais de seu interesse em migrar para o Palácio do Planalto, contudo, têm se intensificado e chamado a atenção até da oposição, que não esconde que vem recebendo mais atenção de Maia.
A articulação nessas duas frentes tem refletido na própria agenda e na postura do presidente da Câmara. Na manhã de quarta-feira mesmo, por exemplo, ele evitou sentar na cabeceira da mesa onde foi realizada a reunião de líderes da Casa. À tarde, foi ao Palácio do Planalto se encontrar com Temer, agenda que também cumpriu na segunda. Diferentemente do que aconteceu com Temer e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) às vésperas do impeachment, o presidente e Maia têm mantido o diálogo e a relação cordial de aliados nos encontros, que se mantêm constantes.
A postura de Maia, de que está cumprindo seu papel institucional na condução da Câmara, é uma estratégia para deixar o governo e sua base sangrarem sozinhos, sem que cole em si a pecha de traidor. A nomeação na terça-feira de Sérgio Zveiter, do PMDB do Rio, para relatar a denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça também fez parte dessa estratégia. Partiu do próprio Maia o pedido para que o presidente da comissão, o peemedebista Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), não escolhesse nenhum nome do DEM para relatar o caso, já que isso poderia dar a impressão de uma articulação explícita de Maia contra Temer
Com isso, foi mais fácil para o DEM atribuir a escolha do “independente” Zveiter a uma disputa interna do próprio PMDB. Antigo conhecido de Maia no Rio e amigo do ministro dos Esportes, Leonardo Picciani, expoente da bancada carioca da sigla, Zveiter era o terceiro nome na preferência da bancada do PMDB na Câmara, liderada pelo paulista Baleia Rossi, fiel escudeiro de Temer. Sua escolha acabou causando mal-estar na parte da bancada ligada ao grupo mais fiel ao governo. No mesmo dia, Zveiter marcou presença no jantar na casa de Maia.
Neste meio tempo, a prisão do ex-ministro e um dos interlocutores mais próximos de Temer, Geddel Vieira Lima, e a expectativa de que o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), preso em Curitiba, feche um acordo de delação, reforçando ainda mais as acusações contra Temer, derreteram a base do governo durante a semana.
Os próprios aliados do peemedebista admitem a derrota na CCJ por um placar de cerca de 40 votos favoráveis à denúncia. Em sua tentativa de reação, o presidente Temer convocou uma reunião com seus 22 ministros na tarde de quarta e, em um ato falho político, segundo um veterano do Congresso, chegou a admitir hipoteticamente que será derrotado na Câmara, mas que o Supremo Tribunal Federal o inocentará.
Na quinta-feira, foi a vez de o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), afirmar que Maia “tem condições” de conduzir a transição do país até 2018, em uma rara indicação de posicionamento da sigla, que tem se dividido entre os deputados mais jovens contrários a Temer e os caciques mais velhos preocupados em articular uma aliança com o governo pela estabilidade.
O peso de Temer começa a sobrecarregar até os mais resilientes governistas, como o DEM. Nesse cenário, Maia pisa leve e garimpa apoios em legendas como o PCdo B e PDT, de olho no Palácio do Planalto.
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