terça-feira, 13 de setembro de 2016

Planalto evita comentários sobre resultado de cassação de Cunha

A cassação do mandato do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já era tratada como "morte anunciada" pelos interlocutores do presidente Michel Temer e aguardada pelo Palácio do Planalto. Temer passou o dia cumprindo agendas de trabalho e reforçou o discurso do governo de que a decisão era de outro poder: a Câmara.
temer Temer saiu relativamente cedo do Planalto nesta terça (13) e, diferente de outros momentos políticos, não reuniu sua tropa mais próxima para jantar ou para acompanhar o andamento dos trabalhos no Congresso. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, um dos mais próximos a Temer estava cumprindo agenda em São Paulo durante a votação. Já o segundo ministro palaciano, Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) também não esteve no Jaburu à noite.
Interlocutores do presidente minimizaram a possibilidade de uma delação premiada de Cunha e ironizaram a declaração do peemedebista de que escreverá um livro contando como aconteceu o processo de impeachment. Para um interlocutor, o livro de Cunha "vai ser interessante". Já outra fonte do Planalto brincou que se Cunha for falar "tudo" será uma série de livros. "Serão muitos volumes".
Mesmo que haja ameaças de Cunha a integrantes do governo, na avaliação de interlocutores de Temer, não haveria o que o Planalto fazer para impedir a sua cassação, assim como é "imponderável" o comportamento de Cunha daqui pra frente.
Sem digital
O Planalto optou por se afastar de Cunha avaliando que qualquer movimento seu a favor do parlamentar só serviria para expor o governo e colocá-lo contra a opinião pública. "É obvio que o governo está atento, mas não há o que fazer. Se há estas ameaças, são coisas imponderáveis", comentou um assessor. "Pelo menos 35 deputados se inscreveram para falar contra Cunha. A opinião pública está contra ele. Sendo assim, ninguém quer colocar sua digital em uma morte anunciada", acrescentou outro auxiliar palaciano.
Apesar de tentar demonstrar distanciamento do processo, Temer passou boa parte da segunda-feira ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que conduziu o processo de cassação no plenário. Maia chegou a suspender a sessão por uma hora, causando apreensão entre opositores de Cunha, que temiam que a decisão faria parte de mais uma manobra do peemedebista.
Temer participou de cerimônia de ratificação do Acordo de Paris pela manhã no Planalto e depois foi à posse da ministra Carmen Lúcia no STF. Nos dois casos, estava acompanhado de Maia. Após a cerimônia no Planalto, inclusive, os dois subiram juntos para o gabinete, onde conversaram. Perguntado sobre o processo de Cunha, ao final da solenidade, Temer esquivou-se e repassou a responsabilidade justamente ao presidente da Câmara. "Perguntem ao Maia", respondeu aos jornalistas.
No domingo, no entanto, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e o secretário do Programa de Parcerias e Investimentos, Moreira Franco, que é sogro de Rodrigo Maia, participaram de um jantar na casa do presidente da Câmara. Todos negam que a cassação de Cunha tenha sido tratada. Mais cedo, Moreira Franco e Geddel estiveram no Palácio do Jaburu, onde se reuniram com Temer. No Planalto, a informação é de que Temer não fala com Cunha "há muito tempo". A orientação do governo era que ministros evitassem fazer comentários sobre o episódio para tentar manter o assunto afastado.
'Governo aderiu à agenda de minha cassação', diz Cunha
Logo após ter o mandato de deputado cassado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deixou o plenário da Câmara com ataques ao governo, ao seu sucessor Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao secretário do Palácio do Planalto Moreira Franco e se disse vítima de uma "vingança política" em meio ao processo eleitoral. Para ele, um "consórcio" entre o governo Michel Temer e o PT foi responsável por sua derrocada.
A aliança entre governo e petistas, segundo Cunha, se deu na eleição de Maia à presidência da Câmara, fazendo assim um acordo para colocar em votação sua cassação. "Houve uma pauta, um compromisso, um acordo do presidente da Casa de pautar e me cassar. Isso já era sabido", afirmou. Ele avaliou que, se sua cassação fosse em votação após as eleições municipais, o resultado não seria o mesmo. "O governo, de uma certa forma, aderiu à agenda da minha cassação."
O peemedebista disse que a articulação para a eleição de Maia foi comandada pela "eminência parda" de Moreira Franco, sogro do atual presidente da Câmara, e secretário executivo do Programas de Parcerias de Investimentos (PPI) de Temer. Cunha disse que seu sucessor não se comportou de acordo com o regimento e que certamente buscará um recurso judicial. "O governo e a "Rede Globo", associados ao PT, foram os principais responsáveis pela minha cassação", disse Cunha.
O peemedebista negou que tenha a intenção de fazer delação premiada porque "só faz delação quem é criminoso", mas anunciou que escreverá um livro sobre o impeachment de Dilma Rousseff, contando os bastidores do processo e os diálogos com todos os personagens envolvidos. O peemedebista disse que ainda vai decidir o que fará de agora em diante, mas avisou que pretende acelerar o livro. "Me arrependo de não ter feito o impeachment antes", disse. Ainda sobre o livro, Cunha alegou que a sociedade merece conhecer todos os detalhes da história recente do país.
Cunha negou se tratar de uma ameaça, mas, questionado se teria revelações a fazer sobre Temer, disse que "no dia que tiver alguma coisa a revelar sobre alguém" o fará.
Ele evitou falar em prisão e disse que não teme o juiz Sérgio Moro, que deve herdar seus casos que hoje tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF). "Não tenho que temer a ninguém, tenho temor a Deus."
Discurso
O tom beligerante da entrevista também esteve na defesa que fez antes da votação, no plenário da Câmara, quando atacou seus pares e os órgãos responsáveis por conduzir as investigações da Operação Lava Jato. Ele se emocionou ao dizer que aquele poderia ser o seu último discurso da tribuna da Câmara. O discurso foi interrompido diversas vezes por vaias e críticas, principalmente de petistas, que o chamavam de "falso", "golpista" e "ladrão". Quando perceberam que Cunha estava emocionado, os petistas ridicularizaram o momento e começaram a dizer que ele deveria chorar para ser mais convincente.

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