sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Pedido de acusação contra Cristina abala governo argentino.

O promotor Gerardo Pollicita solicitou nesta sexta-feira a acusação da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e de outros políticos a partir da denúncia do promotor Alberto Nisman - morto em circunstâncias ainda não esclarecidas -, uma decisão que foi aplaudida pela oposição e sobre a qual o governo não se pronunciou até agora. Pollicita solicitou ao juiz Daniel Rafecas, que analisa o caso, que acuse Cristina, o chanceler Héctor Timerman e outros dirigentes governistas por acobertamento e descumprimento dos deveres. Nisman, promotor especial da ação que investiga o atentado contra a associação judaica Amia, que deixou 85 mortos em 1994, apontou Cristina como principal responsável de um plano para acobertar os iranianos suspeitos de serem os autores do ataque. Após a apresentação de Pollicita, Rafecas cancelou suas férias e reassumirá suas funções na próxima quarta-feira, 18, quatro dias antes do previsto, divulgou hoje o Centro de Informação Judicial (CIJ). Pollicita acusa a presidente e seus colaboradores de "acobertamento por favorecimento pessoal agravado", segundo a denuncia apresentada hoje no site da promotoria argentina. O promotor também considerou que as ações do governo "poderiam ter um enquadramento típico de obstrução de justiça e descumprimento dos deveres de funcionário público". O pedido de acusação também alcança o deputado kirchnerista Andrés Larroque, o militante governista Luis D"Elia, o dirigente islâmico Jorge "Yussuf" Khalil, o militante Fernando Esteche, o expromotor Héctor Luis Yrimia e um suposto espião identificado como Héctor Bogado. Na denúncia de Nisman, o memorando de entendimento assinado com o Irã em 2013 aparece como o principal instrumento do que seria acordo para eliminar as circulares vermelhas emitidas pela Interpol contra os suspeitos iranianos em troca de facilitar a compra, pela Argentina, de petróleo do Irã. Segundo a solicitação, "para levar a um bom termo o acordo com o Irã e conseguir a impunidade dos acusados, fizeram crer que se buscaria o consenso de todo o arco político para avançar em um pacto, mas ignoraram as múltiplas e estendidas opiniões contrárias" a esse acordo. Desde que Nisman tornou pública sua denúncia, o governo argentino argumentou que os supostos benefícios derivados do suposto acobertamento nunca se concretizaram. Além disso, hoje foram apresentados à Justiça documentos "juridicamente relevantes" para rebater a denúncia apresentada por Nisman, como documentação relacionada com as ordens de captura internacional de Interpol emitidas contra os suspeitos iranianos, solicitações de trâmites de extradição e informação da Secretaria de Inteligência, entre outros. Antes do pedido de acusação, o chefe de Gabinete de Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, disse considerar que esta seria uma estratégia de "golpismo judicial ativo" para desestabilizar o governo. O promotor destacou em sua sentença que "cabe dar início a uma investigação" que permita elucidar se, efetivamente, os delitos denunciados ocorreram e "é indiferente que alcance ou não o fim procurado por quem deu a ajuda". A oposição argentina comemorou a abertura de uma investigação contra a presidente. "Estamos nos primeiros passos, mas o fato de Pollicita ter decidido abrir o procedimento judicial é porque analisou que a ação tinha elementos suficientes para ser iniciada", disse à Agência Efe a deputada Patricia Bullrich, do partido Proposta Republicana (Pro). "Acreditamos que o memorando com o Irã foi a ponta de um iceberg de negociações secretas e obscuras", acrescentou. Para o deputado radical Julio Cobos, a notícia "confirma a grave situação institucional" que a Argentina atravessa, por ter "a presidente da Nação acusada e o vice-presidente (Amado Boudou) processado". A Procuradoria Geral anunciou hoje o grupo de promotores que substituirá Nisman à frente da unidade de investigação especial para a investigação do atentado contra a Amia. São eles Sabrina Namer, Roberto Salum e Patrício Sabadini.

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