domingo, 17 de junho de 2018

Torcer para o Brasil na Copa pode aumentar risco de infarto? Depende, diz a ciência

Torcedores na Holanda, Brasil, Uruguai, Gana, Argentina, Alemanha, Espanha e Paraguai em Copas do Mundo (Foto: Arquivo/Reuters)ciência há muito tempo estuda a relação entre emoções fortes e dano ao coração. Estudos mostram que quem perde um ente querido, por exemplo, tem maior risco de infarto. Mas agora, pesquisas nos últimos anos começaram a verificar que algumas emoções aparentemente menos graves - como um jogo estressante de futebol - também podem ser um gatilho para uma hospitalização por problemas cardíacos.
Em relação ao futebol especificamente, estudos brasileiros já se debruçaram
 sobre essa associação. Um levantamento da USP de Ribeirão Preto mostrou
 que as chances de um infarto nos períodos de realização da Copa é maior
do que em qualquer outra época do ano: o índice de pacientes infartados
nessas épocas cresceu de 4% a 8%.
Outras pesquisas, como as coordenadas pelos cardiologistas Álvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese, e Nabil Ghorayeb, do Hospital do Coração, também viram que há mais atendimentos relacionados a problemas no coração durante a Copa.
Os especialistas realizaram estudos em 2010, em 2014 e também planejam estudos para 2018. Na Copa de 2014 no Brasil, eles analisaram internações durante vários jogos em oito hospitais no Brasil.
Na pesquisa, cada pessoa que aparecia no pronto-atendimento com sintomas de emergência cardiovascular respondia a um questionário sobre eventos que antecederam os sintomas. A pesquisa era feita um dia antes do jogo, durante a partida e dois dias depois.
"Na Copa de 2014, demonstramos que houve mais atendimentos cardíacos relacionados ao futebol nos dias do jogo do Brasil, mas o mais interessante é que o número foi estatisticamente mais relevante quando a Alemanha jogou contra a Argentina", diz Nabil Ghorayeb.
"O impacto no coração depende da expectativa. Nos jogos do Brasil em 2014, o Neymar tinha se machucado, ficou fora da Copa, e a questão do 7x1 foi mais a surpresa do placar. Não teve tanta procura na emergência em nosso estudo", diz.
"Agora, na final entre Argentina e Alemanha, muitos estavam torcendo contra a Alemanha, e, quando a seleção alemã ganhou o Mundial, o impacto parece ter sido maior."
Os pesquisadores também fizeram um estudo piloto em 2010, nos jogos da África do Sul. "No dia que o Brasil perdeu da Holanda, o número de internações por evento cardiovascular aumentou 28%", diz Ghorayeb.
Pesquisas de fora do Brasil também observaram essa relação. Um estudo alemão publicado no "New England Jornal of Medicine", sobre os jogos da Alemanha em 2006 mostrou que, nos dias em que a Alemanha jogava, houve um aumento 2,66 maior no número de emergências cardíacas: esse dado é maior em homens (3,26); nas mulheres, o aumento foi menor (1,82).
"Ver um jogo de futebol estressante mais que dobra a possibilidade de um evento cardiovascular. Em vista desse risco, principalmente em homens com histórico de doença cardiovascular, medicas preventivas são necessárias", concluíram os pesquisadores do estudo alemão.
Torcedores durante o jogo Brasilx Alemanha durante a Copa de 2014 (Foto: Euricles Macedo)Torcedores durante o jogo Brasilx Alemanha durante a Copa de 2014 (Foto: Euricles Macedo)Torcedores durante o jogo Brasilx Alemanha durante a Copa de 2014 (Foto: Euricles Macedo)

Cuidados e fatores de risco

Nabil Ghorayeb explica que, se o indivíduo já tem algum problema cardiovascular, o risco de ter algum evento durante o jogo aumenta. Ele cita levantamento da FIFA de 2014 que mostrou que duas mortes de torcedores que compareceram ao estádio estavam relacionadas ao coração. Um torcedor argentino e outro português morreram em jogos do Mundial no Brasil. Os dois eram cardiopatas.
O exagero na bebida álcoolica também aumenta o risco, descreve o cardiologista. "Há efeitos colaterais da bebida no coração. Há maior impacto emocional do jogo sob os efeitos do álcool", diz Ghorayabe.
O médico também recomenda que o torcedor com tendência a ficar mais emocionado durante os jogos não assita aos jogos sozinho - e sempre na presença de, pelo menos, mais um adulto.
"Se o torcedor começa a passar mal, precisa ter alguém com a possibilidade de entender o que está acontecendo e tomar as providências", recomenda.
Quem é cardiopata ou tem pressão alta, o especialista recomenda tomar os medicamentos antes da partida. Outro ponto é cortar o cigarro, ou até ser radical e se afastar totalmente da televisão se o torcedor perceber que o estresse está ficando fora do controle.

Tragédias e síndrome do coração partido

A síndrome do coração partido, ou tako-tsubo, ocorre após um grande estresse emocional, como a perda de uma pessoa próxima ou um assalto (Foto: Reprodução/Bem Estar)A síndrome do coração partido, ou tako-tsubo, ocorre após um grande estresse emocional, como a perda de uma pessoa próxima ou um assalto (Foto: Reprodução/Bem Estar)A síndrome do coração partido, ou tako-tsubo, ocorre após um grande estresse emocional, como a perda de uma pessoa próxima ou um assalto (Foto: Reprodução/Bem Estar)
Eventos estressores, de modo geral, abalam o coração. Tem toda uma área da ciência que se dedica especificamente ao assunto, avalia o especialista.
É daí que vem a expressão síndrome de tako-tsubo ou síndrome do coração partido. "Tako-tsubo" é uma analogia a um vaso japonês usado na pesca.
O coração quando abalado por um estresse emocional fica com uma de suas partes (o ventrículo) com forma semelhante a do vaso.
"Estudos em grandes tragédias já demonstraram a correlação entre emoção e dano ao coração. Em grandes catástrofes, também há mortes por eventos cardiovasculares. Isso aconteceu em eventos como a Guerra do Golfo e Furacão Katrina", diz Ghorayeb.

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