quinta-feira, 28 de junho de 2018

Brasileira separada do filho de 9 anos na fronteira dos EUA reencontra menino

Emoção e alegria, seguidas por momentos desoladores e dolorosos, são os termos usados por um dos advogados do escritório que representa a brasileira Lidia Karina Souza para descrever os dois encontros que ela finalmente teve com seu filho Diogo, na noite de terça-feira e manhã desta quarta (27).
O menino de 9 anos está em um abrigo para menores em Chicago, a mais de 1.500 km de Massachusetts, onde ela vive temporariamente na casa de amigos. Na quinta, uma corte federal pode definir a liberação dele para que os dois fiquem definitivamente juntos.
Os dois foram separados em 29 de maio, graças à política de tolerância zero contra imigrantes ilegais do governo de Donald Trump, quando cruzaram a fronteira dos Estados Unidos. Lidia entrou no país em busca de asilo, mas por não ter feito isso em um posto adequado, foi considerada uma imigrante ilegal e detida.
A jovem de 27 anos foi liberada em 9 de junho e está hospedada na casa de amigos de familiares desde então. Ela só tinha falado com o filho por telefone, duas vezes por semana, em ligações de dez minutos cada.
Na noite de terça e na manhã de quarta-feira, Lidia foi autorizada a passar cerca de uma hora por dia com o menino. Segundo o advogado Jeff Goldman, ela entregou a ele comida, roupas e alguns brinquedos. Acompanhada por uma advogada de seu escritório, a mãe constatou que, apesar de triste, Diogo está saudável e parecia bem.
Goldman explica que os encontros não aconteceram no abrigo onde Diogo está sendo mantido desde a separação. “Eles forneceram um endereço para que nossa advogada levasse Lidia e conduziram Diogo até lá. Não nos deixaram ver o local onde ele fica, não sabemos como é esse lugar e nem sua localização exata”, diz.
Migrante hondurenho e mexicano brincam em abrigo para crianças imigrantes, nos EUA, em foto de sexta-feira (22)  (Foto: Daniel Becerril/ Reuters)Migrante hondurenho e mexicano brincam em abrigo para crianças imigrantes, nos EUA, em foto de sexta-feira (22)  (Foto: Daniel Becerril/ Reuters)Migrante hondurenho e mexicano brincam em abrigo para crianças imigrantes, nos EUA, em foto de sexta-feira (22) (Foto: Daniel Becerril/ Reuters)

Audiência

Nesta quinta, Lidia comparece a uma corte federal, onde um juiz irá determinar se Diogo será imediatamente liberado para que fique com ela ou se continua no abrigo, como pede o governo. Mas, ainda que ele seja mantido no local, a separação não deve ser longa.
Uma liminar emitida na noite de quarta pelo juiz federal Dana Sabraw, do Tribunal de San Diego, válida em todo os Estados Unidos, impede temporariamente a separação das crianças de seus pais na fronteira com o México e ordena que todas as famílias já separadas sejam reunidas em no máximo 30 dias (crianças de até 5 anos têm prazo de 14 dias).
“Quinta-feira é o 28º dia de separação entre Lidia e Diogo. Por isso estamos otimistas que o juiz o libere já nessa audiência, uma vez que, caso não faça isso, ele seria obrigado a respeitar essa liminar e deixar o menino sair do abrigo dois dias depois, de qualquer forma”, afirma Goldman.
Segundo o advogado, sem a liminar, a expectativa era de que a situação de mãe e filho pudesse se prolongar ainda por um bom tempo. Isso porque o governo exige que Lidia e outras duas pessoas com quem ela está morando cedam suas impressões digitais para uma checagem de antecedentes, e alega que esse processo de averiguação levaria 22 dias.
“Isso é ridículo. Um prazo de 22 dias já seria absurdo em qualquer situação, com uma criança envolvida, e separada da mãe, pior ainda”, avalia. Para Goldman, um sinal de que não há boa vontade é que os brasileiros se dispuseram a ceder as digitais há mais de uma semana, mas autoridades disseram na ocasião que não estavam disponíveis, e que só poderiam fazer isso na próxima sexta-feira.

Asilo

O advogado diz que seu escritório irá dar entrada na próxima semana no pedido de asilo de Lidia Karina Souza. É praticamente impossível prever quanto tempo ele levará para ser analisado, mas enquanto isso acontece a brasileira terá autorização para permanecer nos EUA com o filho. "Atualmente, um caso leva até uns três anos, o sistema está quebrado", diz.
Ele lembra que há alguns meses o governo anunciou que iria acelerar a análise dos processos e que esperava emitir respostas em 30 dias. Pouco depois voltou atrás, porém, admitindo que esse prazo é inviável devido ao grande volume de pedidos.

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