terça-feira, 8 de agosto de 2017

Janot diz que novas delações podem atingir Temer

Procurador-Geral da República antecipa, em entrevista, que "várias" investigações estão no "finalzinho" e podem ser transformadas em novas acusações contra o presidente da República. Surgem novos indícios contra o coronel aposentado da PM paulista João Baptista Lima Filho, suposto receptor das propinas da JBS pagas a Temer.
A imprensa trouxe hoje más notícias para o presidente Temer, dias depois dele ter vencido a votação da denuncia contra ele na Câmara dos Deputados. Após o arquivamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), em que foi acusado de corrupção passiva, Temer passou a articular a reunificação de sua base para acelerar sua agenda de reformas, incluindo a da Previdência. Porém, este movimento pode ser mais vez suspenso devido à estratégia da  PGR de fazer novas acusações contra o presidente, obrigando-o a tratar apenas de sua defesa. 
Em entrevista publicada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, o procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou que  "colaborações em curso" podem ajudar nas investigações contra o presidente Michel Temer por suspeita de obstrução de Justiça e organização criminosa. Atualmente, dois presos pela Operação Lava jato negociam acordos de delação premiada, o doleiro Lucio Funaro – apontado com um dos operadores do PMDB nos esquemas de corrupção na Petrobras – e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que já fez ameaças a Temer, inclusive em depoimentos à Justiça, de que tem informações comprometedoras sobre o presidente. 
Janot não confirmou à Folha as tratativas, pois por força da lei não pode fazê-lo, mas questionado sobre o que um político como o ex-presidente da Câmara tem de entregar para fechar um acordo, respondeu: "O cara está neste nível aqui [faz um sinal com uma mão parada no ar], ele tem que entregar gente do andar para cima [mostra um nível acima com a outra mão]. Não adianta ele virar para baixo, não me interessa".
Ainda na entrevista, Janot disse que “a gente não faz uma investigação querendo prazo e pessoas. As investigações vão ficando maduras até que se possa chegar ao final. E várias estão bem no finalzinho. Eu diria que tem flecha”, numa referência que fez a uma declaração dada anteriormente em palestra, quando afirmou que enquanto existirem bambu – investigações - vão existir flechas – acusações. Em outro momento da entrevista, voltou à mesma referência: “Eu continuo minha investigação dizendo que enquanto houver bambu, lá vai flecha. Meu mandato vai até 17 de setembro. Até lá não vou deixar de praticar ato de ofício porque isso se chama prevaricação”.
Amigo
Em outra notícia, também veiculada em sua edição de hoje, a Folha indica que foram encontrados na fazenda do coronel aposentado da PM paulista João Baptista Lima Filho, papéis com “valores associados a nomes de candidatos do PMDB, que sugerem atuação dele no repasse de recursos e materiais de campanha na eleição de 2014”. Amigo de Michel Temer há décadas, Lima Filho é um dos principais personagens da delação da JBS e foi apontado nos depoimentos como destinatário de propina enviada ao presidente, na eleição daquele ano, pela empresa.
Segundo o jornal, entre os documentos, que tratam de campanhas para deputado federal e estadual do partido em São Paulo, há agendas, listas dos candidatos, telefones de assessores, anotações para a distribuição de material gráfico e recados para a contabilização de gastos.  A fazenda em Duartina pertence em parte a Lima Filho e em parte à Argeplan, empresa da qual o coronel aposentado é sócio. O local foi invadido pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no último dia 25 e desocupado seis dias depois. Em 2016, a propriedade já havia sido alvo dos sem-terra, que acusam o coronel aposentado de ser um laranja de Temer.
Questionada pela Folha, a direção do PMDB de São Paulo afirmou somente que o coronel Lima não atuou na campanha de 2014. O coronel Lima não vem se manifestando publicamente desde a delação da JBS. O jornal, na sua reportagem, garante ter procurado o PM aposentado, mas nem ele nem seus advogados teriam respondido.
Obras inacabadas 
Lima também foi alvo de outra reportagem, do Fantástico de ontem (6/8). Segundo o programa, a  Argeplan, empresa de arquitetura e engenharia de Lima Filho, fechou contratos milionários com o Poder Público para a elaboração de projetos de obras que nunca foram concluídas. 
uma licitação, em 2012, do Tribunal de Justiça de São Paulo. O contrato previa que a Argeplan prestaria serviços de arquitetura e engenharia e seria a responsável por fazer os projetos para a construção de 36 novos fóruns paulistas.

O valor inicial estabelecido em contrato para execução dos projetos era de aproximadamente R$ 94 milhões e, em 2013, ganhou um aditivo de mais R$ 57 milhões, totalizando o montante de R$ 151 milhões. Só que nenhuma das 36 construções foi levada adiante. De acordo com o TJ, a Argeplan realizou, ao todo, “635 serviços diversos e 1966 relatórios técnicos”. Por esses trabalhos, a empresa do homem de confiança de Temer recebeu mais de R$ 27 milhões. 
A empresa do coronel Lima está envolvida em outra obra, ainda mais grandiosa, que não chegou ao fim: a usina 3 de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. A construção, que envolve tecnologia de ponta e já consumiu mais de R$ 5 bilhões, está parada desde 2015 por falta de dinheiro. 
A licitação para elaborar o projeto de construção da usina nuclear foi vencida pela europeia AF Consult, mas o contrato de R$ 168 milhões previa que ela tinha a obrigação de atuar em parceria com uma empresa brasileira. A escolhida foi a Argeplan e, juntas, as duas criaram a AF Consult Brasil, com sede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.  Os projetos para construção da usina em Angra até foram entregues pela AF Consult Brasil, mas o Tribunal de Contas da União reprovou os valores pagos. 

Ao Fantástico, a Eletrobras, responsável por Angra 3, informou que o contrato da AF Consult Brasil está suspenso desde 2016 e que ajuda nas investigações. A AF europeia, por sua vez, afirmou que, diante das acusações no Brasil, pediu explicações à Argeplan e aguarda uma posição. Já a assessoria de Temer disse, ao programa, que não comenta atividades privadas de empresas. Já o advogado do coronel Lima não quis se manifestar. 

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