segunda-feira, 13 de março de 2017

Apesar de denúncias, Temer mantém aliados ao seu lado para aprovar reformas

Após sair do Ministério do Planejamento, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) se diz no governo "até o pescoço". Foto: Ed Alves/CB/D.A PressO governo Michel Temer entra em uma encruzilhada com os avanços da Operação Lava-Jato e a necessidade de implementar a agenda econômica aguardada pelo mercado. Na semana em que virão a público as delações da Odebrecht, o Planalto corre para aprovar a primeira parte da reforma trabalhista, com o projeto da terceirização. A gestão Temer quer mostrar ser capaz de superar as adversidades políticas e conta com uma visão ampliada dos agentes econômicos para não ficar no centro do tufão sozinho.

Aliados governistas afirmam que, do lado empresarial, a gestão Temer está espalhada pelo Executivo, Legislativo e, em alguns casos, até no Judiciário. Não foram poucos os casos em que o Supremo Tribunal Federal (STF) brecou discussões jurídicas que poderiam desenterrar esqueletos econômicos milionários, como no caso da desaposentadoria. Outro cuidado, na visão de interlocutores do presidente, é para evitar que pessoas confiáveis perante os agentes econômicos fiquem à margem da gestão, mesmo estando enrolados do ponto de vista das investigações.

É o caso do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que teve uma passagem relâmpago pelo Ministério do Planejamento. Ele caiu após a divulgação de gravações nas quais debatia com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado mecanismos para “estancar a sangria” da Lava-Jato. A percepção generalizada, contudo, é de que ele continua como ministro informal do Planejamento, posto ocupado oficialmente por Dyogo Oliveira, seu secretário executivo. “Sou governo até o pescoço. Continuo debatendo as questões econômicas com todo mundo. Sou senador, presidente do PMDB e líder do governo”, resumiu. A dependência de Jucá é tamanha que ele foi nomeado líder do governo no Congresso e, há 10 dias, após a saída do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) para o ministério das Relações Exteriores, assumiu o posto de líder do governo no Senado, função que desempenhou ao longo das três últimas gestões — Fernando Henrique, Lula e Dilma Rousseff.

Missão
Outra situação envolve o chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha. Citado pelo ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho como participante de um jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, quando foi acertada uma doação de R$ 10 milhões para o PMDB, Padilha deve retornar ao posto hoje. Ele teve alta do hospital na última quarta-feira, após uma cirurgia para a retirada da próstata. O ministro também apareceu no depoimento prestado por José Yunes, ex-assessor especial da Presidência, ao Ministério Público Federal, como destinatário de um envelope encaminhado pelo doleiro Lúcio Bolonha Funaro, preso em Curitiba.

A situação de Padilha é delicada, mas ele tem um papel estratégico no governo. “É um grande colaborador. Reassumirá a Casa Civil a hora que quiser. Espero que possa continuar, porque me faz muita falta”, enalteceu Temer, em entrevista ao Correio. Na ausência do chefe da Casa Civil, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se viu obrigado a assumir, pessoalmente, as negociações com os deputados sobre a Reforma da Previdência. Não que Meirelles tenha achado ruim a missão, já que almeja concorrer à sucessão de Temer em 2018. Há 10 dias, em plena quinta-feira, o primeiro item da agenda do ministro foi uma reunião com o publicitário Nizan Guanaes, que coordenou as campanhas de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998.

Memória mantida

Mais um que deixou o governo, mas mantém influência, é o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima. Afastado após embate pessoal com o também ex-ministro da Cultura Marcelo Calero em torno de um empreendimento imobiliário em Salvador, Geddel é investigado na Operação Cui Bono?, desdobramento da Lava-Jato que envolve denúncias de corrupção na Caixa Econômica. Geddel negociou a manutenção de Carlos Henrique Sobral na chefia de gabinete da Secretaria de Governo. “Ele é fundamental para o governo porque sabe, de memória, todos os acordos fechados com os aliados para formalizar a base de apoio no Congresso”, resumiu um aliado palaciano.

Há sinais de que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha , preso em Curitiba, tenha uma boa parcela de influência no governo. Na semana que passou, o líder do PMDB do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), trocou farpas com Michel Temer ao criticar a indicação de aliados do deputado cassado para a liderança do governo no Congresso, o deputado André Moura (PSC-SE), e para a presidência da comissão especial da Reforma da Previdência, Carlos Marun (PMDB-MS).

Por enquanto, o mercado está em espera, apostando no êxito do governo. “Eu, particularmente, estou cético, porque ainda há muitas dificuldades. O Banco Central acertou ao não ceder à queda abrupta dos juros. Ainda temos um imbróglio fiscal, porque o crescimento dos últimos anos foi feito com base no consumo”, resumiu o integrante do Conselho Regional de Economia e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas. “Ainda assim, os agentes econômicos mantêm a confiança no governo por acreditarem que não há alternativas se a atual gestão falhar”, completou.

O livro do ano

Prometido desde quando o ex-deputado Eduardo Cunha passava pelo processo de cassação na Câmara, chega às livrarias, segundo coluna do jornal O Globo, no próximo dia 27, o livro Diário da cadeia, assinado pelo ex-parlamentar. Entretanto, o nome seria um pseudônimo para esconder o autor da peça. Só quem saberia o nome verdadeiro de quem escreveu é a Editora Record. Um dos personagens principais da história é presidente Michel Temer.

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