sábado, 11 de março de 2017

Adolescentes confirmam briga antes de morte de menina em escola no RS

Três adolescentes que estavam com Marta Avelhaneda Gonçalves, de 14 anos, antes da menina ter sido encontrada morta, nesta quarta-feira (8) em Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, confirmaram em depoimentos na tarde desta sexta-feira (10) que ela havia se envolvido em uma briga. O delegado Leonel Baldasso, responsável pelo caso, espera tomar depoimentos de outros estudantes devido a contradições das testemunhas.
"Vamos ter de ouvir mais alunos para termos certeza. Elas acusam a vítima, que essa vítima teria provocado a briga, na versão delas. Ela teria rolado no chão, entrado em briga com uma delas, e a outra tentou apartar e tirou", disse.
Segundo o delegado, as testemunhas citaram nomes de outros estudantes, inclusive meninos, que estariam envolvidos na briga que, segundo a diretora, aconteceu na troca de turnos. No entanto, elas seguem sem indicar como teriam sido as lesões no pescoço e a asfixia apontadas no laudo pericial. 
Baldasso espera concluir o inquérito na próxima semana, e as adolescentes poderão ser responsabilizadas por homicídio. "Assim que houver a confirmação por outras testemunhas de que elas brigaram, podemos enquadrar como homicídio as meninas de 12 e 13 anos de idade, mas temos de ouvir mais pessoas."
Delegado que investiga morte de adolescente em sala de aula suspeita de ciúmes (Foto: Reprodução/RBS TV)Delegado investiga morte de adolescente em
sala de aula (Foto: Reprodução/RBS TV)
A polícia suspeita que o motivo da desavença seja ciúme. A jovem havia se mudado com a família de Porto Alegre para a cidade da Região Metropolitana em dezembro de 2016 e era nova na escola.
"Pelo que se recebeu de informe, uma delas teria um namorado, e esse namorado teve um primeiro contato com a vítima. E um ciúme poderia ter ocasionado essa briga. Vamos buscar testemunhas, funcionários da escola, e apurar eventual responsabilização, omissão, que teria ocorrido por parte dos gestores daquele local", afirma o delegado Leonel Baldasso.
Os depoimentos tiveram o acompanhamento da Promotoria de Defesa da Infância e da Juventude do Ministério Público, do Conselho Tutelar e dos responsáveis pelas adolescentes.
O caso
O caso ocorreu na tarde de quarta (8) em uma sala de aula da Escola Estadual de Educação Básica Luiz de Camões. A ocorrência da Brigada Militar levada à delegacia após a morte informava que uma briga havia ocorrido entre a vítima e mais três colegas de uma turma do 7° ano, dentro da sala de aula. Marta foi encontrada desacordada.
As três adolescentes que teriam participado da agressão chegaram a ser levadas para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), mas foram liberadas em seguida. "Vamos aprofundar as investigações e saber qual a motivação da briga. Ver se houve intenção de matar e, havendo intenção, as adolescentes vão ser enquadradas por homicídio", explica o delegado.
A polícia também vai apurar a conduta dos funcionários da escola. O colégio tem 450 alunos.
CRE isenta direção
Procurada pela reportagem, a 28ª Coordenadoria Regional de Educação disse que não houve negligência dos profissionais e da direção da escola, e elogiou a atuação deles no episódio. A coordenadora Marta Ribeiro ressaltou que a diretora não tinha a informação de que houve uma briga quando socorria a vítima. O primeiro relato foi de que a adolescente tinha sofrido um mal súbito.
Além disso, conforme a coordenadora, a direção da escola chamou uma técnica de um posto de saúde que fez atendimento preliminar, antes da chegada de uma ambulância. A diretora também acompanhou a aluna no Hospital Padre Jeremias, onde soube que uma briga havia ocorrido. Eventuais punições a alunos envolvidos serão definidas após orientações da Polícia Civil e do Ministério Público.
Família pede justiça
Marta estava no segundo dia de aula na escola. As aulas começaram na terça (7).
A irmã define a adolescente como uma menina tímida, que pouco saía de casa. "Era tímida, mais na dela, bem amiga... Não gostava nem de sair mais, o que ela fazia era ir para o colégio, e se a mãe mandava ir no mercado. Ela só ficava no celular e no quarto", conta Géssica Gonçalves.
Inconformada, a irmã da vítima pede justiça. "Não sei se a responsabilidade é do colégio. Não interessa se essas gurias são menores de idade, de algum jeito elas têm de ser penalizadas", desabafa.
Devido à morte da estudante, os portões da escola, que fica na Vila Bom Princípio, amanheceram fechados na quinta (9), e ficará assim também nesta sexta (10). As aulas foram suspensas por dois dias.
Cartaz avisa que escola estará fechada nesta quinta em Cachoeirinha (Foto: Bernardo Bortolotto/RBS TV)Cartaz avisa que escola ficará fechada em Cachoeirinha (Foto: Bernardo Bortolotto/RBS TV)
Versões da diretora e de coordenadora de posto de saúde
Durante a manhã, a diretora da escola não quis falar com a reportagem. Questionada, disse apenas que estava "muito abalada". À Rádio Gaúcha, mais cedo, Fani Drehmer de Oliveira relatou que a situação ocorreu na troca de turno de aulas.
"O professor estava se dirigindo para a sala de aula e, nesse meio tempo, os alunos me ressaltaram que tinha uma aluna passando mal. Quando chegamos, ela estava deitada no chão da sala, desacordada, convulsionando", lembra.
Fani disse que soube da briga já no hospital. "Estava no hospital com a mãe e um professor me relatou da briga, mas não sei bem dizer se o óbito foi em consequência disso, é algo que está sendo investigado", resume.A diretora também disse que a menina não apresentava marcas de agressão. Fani classificou a morte da adolescente como uma "fatalidade".
Também à Rádio Gaúcha, a coordenadora do posto de saúde onde a adolescente foi atendida, Gelci Machado Rodrigues, disse que a menina não apresentava marcas de agressão. "Não tinha lesão alguma, estava no chão, ela espumou um pouco pela boca, acredito que na hora do óbito", relata.
Gelci conta que foi chamada por uma professora que chegou à unidade de saúde pedindo ajuda, relatando que uma "menina tinha passado mal e desmaiado".  "Quando chegamos, ela estava sendo reanimada por um professor, com massagem cardíaca, enquanto uma professora fazia respiração boca a boca, e outra passava álcool nas extremidades", lembra.
Pouco tempo depois, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou ao local. "Quando o Samu chegou, se tentou por várias vezes fazer a massagem, deram choque, sem resultado algum”, diz a coordenadora, acrescentando que a jovem foi levada para o Hospital Padre Jeremias, aparentemente já sem vida.
A coordenadora do posto também disse que soube de briga depois, pelas redes sociais. "Perguntei o que tinha acontecido, e um professor me disse que ela caiu da cadeira, em momento algum foi falado em briga", relata.

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