quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Famílias de mortos em rebelião em Manaus criticam atendimento no IML

Equipes de atendimento do IML estão tentando a identificação por meio de documentos adquiridos com os parentes. Em seguida, eles retornam para confirmar as identidades de quem já está identificado. A espera causa angústia, sobretudo por se sentirem desrespeitados.

Familiares aguardam por informações do lado externo do IML (Foto: Suelen Gonçalves/ G1 AM)"Eu tô desde ontem aqui esperando a confirmação de que é meu filho que morreu. Eu acho que é ele pela foto que vi no celular, mas, sinceramente, não quero acreditar que seja até que eu possa olha para ele, nem que seja em um caixão. Todo mundo aqui está sofrendo e ainda tem que passar por essa humilhação", reclama a dona de casa Lene Arruda, de 48 anos, que preferiu preservar a identidade do filho.
Familiares se apertam em grade para conseguir informações sobre os presos mortos (Foto: Suelen Gonçalves/ G1 AM)Familiares se apertam em grade para conseguir informações sobre os presos mortos (Foto: Suelen Gonçalves/ G1 AM)
A operadora de caixa Carolina de Lira, de 22 anos, quer a liberação do corpo do irmão dela, Linekin Lira, de 24 anos. Ela disse ter reconhecido o jovem em vídeo de presos mortos divulgado em redes sociais. "Eu estou desde ontem aqui querendo informação. Mandaram a gente ir para casa e voltar hoje que ia informar melhor. Já fui em casa, já voltei e continua tudo igual. É um descaso", critica a jovem.Outra reclamação é sobre a lista oficial com o nome dos mortos que seria divulgada na manhã desta terça-feira (3). Até as 14h, nenhuma lista havia sido divulgada pelo Instituto.
Em outras situações com grande número de mortos, familiares costumam ser atendidos no auditório do IML. Desta vez, as polícias civil e militar estão fazendo barreira para bloquear o acesso às dependências.
Mulher tenta saber notícias do marido com agente do Compaj (Foto: Suelen Gonçalves/ G1 AM)Mulher tenta saber notícias do marido com agente do Compaj (Foto: Suelen Gonçalves/ G1 AM)
Compaj
A falta de informação a respeito dos sobreviventes também angustia os familiares que vão até o Compaj em busca de notícias. Nesta manhã, pais, irmãos e esposas contavam com a ajuda de agentes penitenciários para confirmar se quem procuraravam ainda está preso. A dona de casa Lene da Glória, de 40 anos, aguardava informações sobre o filho dela. "Eu não fui nem no IML porque tenho fé que meu filho está vivo. Espero que ele não tenha fugido e esteja aí dentro", diz.
Lene estava desde as 7h na frente do Compaj aguardando resposta. As famílias que iam até o local passavam os dados e o endereço da cela do preso para que os agentes anotado em um papel e eles retornavam com as informações. Por volta das 8h30, Lene teve a resposta que esperava: o filho estava vivo.
Entenda o caso
O primeiro tumulto nas unidades prisionais do estado ocorreu no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), localizado no km 8 da BR-174 (Manaus-Boa Vista). Um total de 72 presos fugiu da unidade prisional na manhã de domingo (1º).
Horas mais tarde, por volta de 14h, detentos do Compaj iniciaram uma rebelião violenta na unidade, que resultou na morte de 56 presos. O massacre foi liderado por internos da facção Família do Norte (FDN).
A rebelião no Compaj durou aproximadamente 17h e acabou na manhã desta segunda-feira (2). Após o fim do tumulto na unidade, o Ipat e o Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM) também registraram distúrbios.
No Instituto, internos fizeram um "batidão de grade", enquanto no CDPM os internos alojados em um dos pavilhões tentaram fugir, mas foram impedidos pela Polícia Militar, que reforçou a segurança na unidade.
No fim da tarde, quatro presos da Unidade Prisional do Puraquequara (UPP), na Zona Leste de Manaus, foram mortos dentro do presídio. Segundo a SSP, não se tratou de uma rebelião, mas sim de uma ação direcionada a um grupo de presos.

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