terça-feira, 25 de agosto de 2015

Transexual assume a Secretaria de Direitos Humanos da República

Symmy Larrat 1100Você precisa conhecer a paraense Symmy Larrat, que assumiu a função de coordenadora-geral de Promoção dos Direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Formada em Comunicação Social, pela Universidade Federal do Pará, Symmy faz parte de uma minoria de trans que conseguiu superar os obstáculos do preconceito para estudar e ocupar um lugar no mercado de trabalho. Até de chegar ao escritório político em Brasília, percorreu um longo caminho.

De família católica, ela afirma que desde criança já tinha noção de que não era como a maioria, e os parentes e colegas de escola percebiam. “Eu sabia que se falasse como eu me sentia eu seria recriminada ou tratada de forma diferente. Mas eu não tinha nitidez de que eu era uma menina no corpo de um menino, até porque a criança não trata a questão dessa forma”, disse ela em entrevista à Agência Brasil. “Meu gênero é feminino e eu sou mulher. A minha genitália não me faz homem”, ressaltou.

Mesmo formada, Symmy relembra que foi difícil conseguir uma colocação no mercado de trabalho. “Era explícito, o tempo todo. Eu andava na rua durante o dia e as pessoas me recriminavam porque achavam que aquele horário não era pra mim, é como se tivesse um toque de recolher para os diferentes”. Ela não conseguiu trabalho. “Tive que me prostituir com o diploma no bolso. Só me restavam as duas opções que eram dadas às trans. Ou eu ia montar um salão – mas nunca tive aptidão – ou ia pra esquina”.

Nessa época, Symmy trabalhava como prostituta de madrugada e era voluntária do Centro de Referência LGBT de Belém pela manhã, onde recebia denúncias de homofobias – homofobia, lesbofobia e transfobia – e encaminhava as vítimas para a polícia. Ela também sempre esteve envolvida com movimentos sociais e com a vida política.

Direitos

Por achar que o acolhimento das mulheres e dos homens trans é a única maneira de permitir que se tornem médicos, professores ou tenham qualquer outra profissão, e assim ganhem espaço na sociedade, Symmy diz que uma das suas prioridades na Secretaria de Direitos Humanos é fazer com que os serviços públicos, principalmente escolas e hospitais, entendam as necessidades desse grupo.

Segundo ela, muitos trans não encontram acolhimento, e nesse contexto, a escola sai de cena. “É imenso o número de pessoas trans de 14, 15 anos, na rua, já se drogando, já se prostituindo, vivenciando toda essa mazela”, lamenta.

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) estima que 90% das travestis e transexuais brasileiras estejam envolvidas com prostituição.

Symmy disse que é prioridade da sua coordenação lutar para que a sociedade brasileira trate essas pessoas de forma igualitária. “Falta esse olhar nos profissionais de todo o serviço público. Isso só muda com o convívio, por isso também é tão importante que as travestis frequentem a escola, para que possam conviver e aprender a se relacionar”. Symmy acredita que essa convivência pode fazer o preconceito diminuir e mudar a forma de tratamento de quem é trans. “Precisamos com urgência transformar as escolas em locais acolhedores. Hoje, quando uma aluna diz que não quer usar o banheiro junto com uma travesti, a escola não sabe como lidar, não sabe o que fazer e tem medo dos pais.”

Outra pauta prioritária é o acesso ao Processo Transexualizador, que já é um direito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas não está capilarizado nos estados.

O processo transexualizador é um conjunto de procedimentos que auxilia travestis e transexuais, como psicoterapia, tratamento hormonal e cirurgias de mudança de sexo para as mulheres transexuais interessadas.

“Hoje, pela Portaria 2.803, uma travesti deveria poder chegar a um hospital público e fazer o tratamento. Mas o SUS está lutando para conseguir disseminar hospitais nos estados e municípios que queiram se credenciar, e é difícil.”

Segundo Symmy, há poucos médicos preparados e interessados em trabalhar com complementação hormonal, etapa importante do processo. “Não é porque a gente conquistou a portaria que o processo está garantido. A dificuldade de acesso ainda é muito grande. Precisamos levar o acesso para todo o Brasil”

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